2. Influência da Doença nos Gênios da Arte
Acadêmico Jairo Carvalhais Câmara
Conferência realizada no dia 26 de março de 2004, no Curso de História da Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, em Sessão Conjunta da Academia Mineira de Medicina e do Centro de Memória da Medicina.
FRIDA KAHLO
Em recente conferência, sobre o grande músico Carlos Gomes, o maestro Luiz Gonzaga Aguiar afirmou que a arte não tem raça, idade ou sexo.
Outro fato conhecido e freqüente no desenvolvimento da arte por mais variáveis que sejam, é a associação de obscuridade e pobreza, as preocupações de difícil sobrevivência alem de enfermidades e dores, com a criação de determinada obra e estilo. Ao sofrimento da doença se agrega o da morte! A certeza de uma vida curta produz no artista verdadeira explosão criativa de obras grandiosas, muitas vezes em relação direta com o seu estado patológico, pela transposição dos sofrimentos e deformidades, identificando de imediato no estilo, beleza e acabamento, o estádio da doença.
Atualmente, com o avanço dos conhecimentos da Medicina Psicossomática, já se faz a abordagem da associação entre doença física e depressão secundária.. Segundo Caldeira (1), a doença física ou crônica implica uma experiência que é a única para cada indivíduo. O paciente reagirá a ela com os instrumentos que construiu ao longo de sua vida pessoal, com suas experiências e com o significado que tem para ele aquela situação ou vivência específica.
Seria difícil enumerar a série de sofredores, gênios da música, da escultura, da pintura, da poesia e da literatura que, apesar de suas mazelas expostas ao público em todos os seus pormenores causando pena, repugnância ou mesmo medo, ficaram famosos pelas maravilhosas obras que deixaram para a humanidade.
Na América do Sul, citaremos alguns que nos tocaram de perto por serem brasileiros:
Antônio Francisco Lisboa “o Aleijadinho” (1730 – 1810) (9), Vila Rica, Brasil. O maior escultor barroco, símbolo da Arte Sacra de Minas Gerais e do Brasil perante o mundo, sofreu estoicamente as dificuldades no trabalho de escultor. Suas controvertidas enfermidades com diagnósticos de doença de Hansen, reumatismo deformante e porfiria que não o impediram de esculpir mesmo com as mãos amarradas nos camartelos, até a avançada idade de 82 anos e somente parando de trabalhar devido a cegueira que o acometeu.
Antônio Carlos Gomes (1836 – 1896) (9), Campinas, Brasil. Compositor que desde a juventude, encontrou barreiras sociais devido sua origem de mestiço. Conseguiu superar a discriminação racial com suas músicas, onde se inclui “o Guaraní” ópera inaugurada com sucesso no Teatro Scala de Milão e alcançando renome internacional. Foi vencido por inexorável sofrimento com um câncer de língua que o levou a morte.
Antônio Castro Alves (1847 – 1871) (9), Muritiba, Bahia, Brasil. Da Escola Condoreira, cujo símbolo era o condor e considerado o poeta dos escravos. Foi um dos maiores poetas brasileiros que, através de sua poesia, expressou com bravura a liberdade dos escravos, deplorou os órfãos e esmolou os pobres com os seus versos. Deixou apenas um livro “Espumas Flutuantes” além de grande número de poesias esparsas. Devido a uma tuberculose, sua saúde é cada vez mais comprometida e agravada em um acidente de caça tendo um pé baleado e depois amputado, vindo a falecer aos 24 anos.
Antônio Gonçalves Dias (1837 – 1860) (9), Caxias, Maranhão, Brasil. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, retornou ao Brasil publicando o livro “Primeiros Contos”. Foi um poeta lírico considerado de intensidade e simplicidade raras. Devido grave doença provavelmente tuberculose e necessitando mudar de clima, retornou á Europa como bolsista onde permaneceu até receber o aviso de que perderia a mesma. Preocupado com sua doença e risco de miséria, novamente viajou para o Brasil e já avistando o litoral do Maranhão num veleiro por falta de dinheiro, o Ville de Boulogne que naufragou logo em seguida. Debilitado por sua doença, foi o único a falecer por afogamento, aos 23 anos.
Na Europa, também grandes gênios na história do mundo artístico foram reconhecidos sofredores:
Amedeo Modigliani (1884 – 1922) (3), Itália. Um dos mais importantes componentes da complexa Escola de Paris, artista independente expressando-se elegante e delicadamente através de um desenho preciso e sóbrio. Com pleurisia na infância, febre tifóide e mais tarde pertinente tuberculose devido a vida desregrada com privações e excessos após sua mudança para Paris. Faleceu no dia 25 de janeiro de 1922 e no dia seguinte após o enterro, sua mulher Jeanne Hebuterne grávida de 9 meses, cometeu suicídio.
Vincent Van Gogh (1853 – 1890) (3, 6), Holanda. Tendo uma herança genética de doença nervosa, desde a infância foi uma pessoa rebelde, tristonho e uma desilusão para seus familiares. Pelos lugares em que trabalhava até como mineiro, seu modo estranho assustava seus colegas e não seguindo as normas estabelecidas, sendo demitido. Manifesta sua primeira crise de doença, retornando á sua casa e sendo sustentado por seu irmão. Suas pinturas são escuras e pesadas, não sendo aceitas pelos colecionadores, não conseguindo vender nenhum quadro. Em 1889 após uma briga com seu amigo Paul Gauguin, cometeu auto mutilação na orelha. Com o agravamento de suas crises de loucura pintou somente em 1889, 200 quadros; em 1890 no primeiro semestre, 150 quadros. Cometeu suicídio em 27 de julho de 1890, num campo de trigo, tema de um dos seus quadros e sendo portanto uma das maiores comprovações da doença exacerbando a genialidade.
Edouard Manet (1832 – 1883), (3) França. Iniciando sua vida de artista como pintor das paredes de um navio, o “Havre et Guadeloupe” que aportou no Rio de Janeiro durante três meses, tempo suficiente para perceber as cores, formas e luzes da natureza que ele mesmo chamou “a mais bela possível” e que, sempre afirmava não encontrar nos diversos cursos de arte que freqüentava. Foi um pintor controvertido com discutidos quadros, em especial o “Bebedor de Absinto” com 60% de reprovação pelo júri do Salão de Artistas Franceses em 1860. Vítima de moléstia circulatória dos membros inferiores, teve amputado seu pé esquerdo, sendo famosos seus pedidos na deambulação de leito “ei, cuidado com o meu pé”, pelo estímulo nervoso e falsa sensibilidade comum nos amputados, ainda não sabia que estava mutilado. Sobrevindo uma septicemia, rapidamente veio a falecer.
Henri Touluse Lutrec (1864 – 1901) (7) França. Um dos maiores expoentes do impressionismo, com sua deformidade genética de atrofia dos membros inferiores. Tendo independência econômica, procurava alívio de suas depressões no convívio das prostitutas e alcoólatras nos bares parisienses de Montmartre onde desenhava, em papeis e toalhas de mesas com traços rápidos, suas figuras grotescas e caricatas que eram transformadas em quadros famosos de diversos museus e cujo maior acervo está no Museu d’ Orsay em Paris.
Pierre Auguste Renoir (1841 – 1919) (3), França. Já em idade madura este famoso pintor teve uma fratura do braço, por queda de bicicleta, seguida por uma doença reumática, perdendo funções dos membros, mas manteve sua produção artística pintando seus quadros sentado e com os pincéis amarrados em seus dedos.
Sir Winston Leonard Spencer Churchill (1874 – 1965) (4-9), Inglaterra. O grande Primeiro Ministro, um dos vencedores da IIª Guerra Mundial, sendo famosa sua frase ao povo de que aos ingleses só restava “sangue, suor e lágrimas” e criando ainda o símbolo da vitória com os dedos da mão direita elevados em forma de V e até hoje usado no mundo inteiro como sinal de qualquer vitória. Prêmio Nobel de Literatura em 1953, portador de tabagismo que, segundo afirma Nunziato (8), especialista em charutos, teria fumado cerca de 250.000 charutos. Com profunda depressão após sua aposentadoria da vida de homem público aos 81 anos de idade e recomendado pelos seus médicos, iniciou uma fase de pinturas que eram um de seus hobbies e, para surpresa de todos, deixou diversos quadros de grande valor ao falecer com os provectos 91 anos que foram sua principal herança deixada para a família.
Ludwig Van Beethoven (1770 – 1827) (4-9), Alemanha. Teve sua música abstrata, alem de toda beleza sensorial, decorrente de uma progressiva surdez adquirida desde a infeliz infância com seu pai, um músico boêmio que o castigava na tentativa de explorá-lo como menino prodígio e que teria culpa na sua neurose e compulsão agressiva que procurava controlar. Uma briga com o imperador Napoleão, obrigou-o a mudar a dedicatória de sua Terceira Sinfonia (Heróica).
Frédéric François Chopin (1810 – 1849) (9), Polônia. Com suas sonatas, sinfonias e prelúdios, corroído pela tuberculose, teve ainda uma vida amorosa intensa com George Sand, a bela mulher francesa, pelo aumento da sua sexualidade conseqüente ao enfraquecimento tísico, levando-o á morte aos 39 anos.
Na América do Norte, vamos encontrar dois grandes exemplos de abnegados artistas, vítimas de patologias causadoras de incapacidade, vencidas pelas suas grandezas geniais:
Diego Rivera (1886 – 1957) (3-10) México. O maior pintor mexicano, um dos lideres socialistas, foi marido de Frida Kahlo, deixando uma imensa obra de 2.000 quadros, mais de 5.000 desenhos e cerca de 4.000 metros de grandes painéis, onde se destacam, segundo Villegas (10), “El Sueño e “Alfabetizacion”, ambos políticos e revolucionários, pintados em 1928 e que se encontram na Secretaria de Educación Pública da Cidade do México. Seus quadros foram doados integralmente a museus “para que a arte fosse de todos”. Teve um longo sofrimento físico com sua obesidade e diabete, vindo a falecer de colapso cardíaco.
Magdalena Carmen Frieda Kahlo Calderón (FRIDA KAHLO) (5-11) (1907 – 1954), México. Motivo desta palestra, foi uma paciente em que o predomínio do sofrimento desde a infância até os últimos dias de sua vida, transformaram-na em uma das mulheres mais importantes da história artística e política do seu pais. Não era uma artista de grande tradição familiar e sua opção era uma vida próxima ao normal devido a sua condição de saúde conseqüente a uma poliomielite contraída aos seis anos, que, apesar dos cuidados médicos e paternos, sua perna direita ficou muito magra e o pé esquerdo atrofiado, causando deformidades permanentes.
Estudando o curso primário no Colégio Alemán, a escola alemã do México, ela chegou a freqüentar a Escola Nacional Preparatória, que servia de preparação para a Universidade. Frida queria estudar ciências naturais, zoologia e anatomia, esperando um dia ser médica. Em 1925, ao viajar em um ônibus para sua cidade Coyoacán, ocorreu uma colisão deste com um bonde elétrico ficando gravemente ferida e havendo até dúvidas sobre a sua sobrevivência. Após um ano, ela o representaria num desenho esquemático a lápis. Devido ao acidente ficou hospitalizada vários meses, usando coletes, ficando privada dos movimentos e prisioneira do leito.
Seu pai, procurando amenizar sua monotonia, levou-lhe um material de pintura antigo que tinha guardado e, colocando um espelho aos pés da cama, onde ela se via, iniciou uma modesta atividade de pintora, sendo sua própria modelo, o que ocorreria durante toda sua vida. Pintou numerosos auto-retratos onde sempre aparecem uma ou outra fase das suas doenças, não somente na sua figura mas também no cenário de fundo com paisagens vastas despidas ou vazias e os quartos frios de sua intensa solidão.
Em certos quadros, quebrando um tabu da época, apresentava imagens pessoais que diziam respeito ao seu corpo, sua sensualidade e suas dificuldades obstétricas. Com colaboração do seu marido Diego Rivera, sua presença política no desenvolvimento da libertação revolucionária do México em 1921, definiu sua escola e estilo modernista, que hoje fazem parte do acervo mundial em diversos museus inclusive o que foi criado em Coyoacán no México, o Museu da Casa Azul, onde nasceu e faleceu.
Esta grande mulher mexicana, apesar de todas as vicissitudes, teve uma intensa vida com seus sofrimentos, tratamentos médicos cirúrgicos e fisioterápicos, passando pela mutilação da amputação de dedos e depois do próprio pé, difícil convivência amorosa com um complicado marido, mas jamais deixando em segundo plano sua arte e seu envolvimento político na defesa da liberdade da Nação e dos Direitos Socialistas das Classes Operárias. Mesmo enfraquecida, por recente pneumonia, compareceu a um comício político em noite fria, vindo a falecer 12 dias depois.
Sua vida e sua obra artística já amplamente divulgada em livros e filmes, onde seus dramas, suas dificuldades morais e físicas, fogem do alcance de uma simples palestra. Veremos apenas alguns quadros de interesse médico, onde as doenças são definidas com perfeitas imagens anatômicas estudadas nos Cursos Preparatórios e aproveitadas pela sua criatividade artística, colocando-a simbolicamente, conforme afirma o ilustre médico historiador Professor João Amilcar Salgado, entre os maiores Anatomistas, Ginecologistas e Obstétras do México.
Em homenagem a sua pessoa, retrato de Frida Kahlo -1939 (11). Fotografia de Nickolas Muray, International Museum of Photografy at George Eastman House.- Chronicle Books, San Francisco – USA 1991.
A seleção de quadros a seguir, demonstra suas doenças no sentido das lesões anatômicas e também das influências em sua vida:
1. “Acidente” – l926 (5). No estilo da pintura popular, desenhou a cena do desastre um ano depois, sem preocupação com as regras da perspectivas, mas detalhando o resgate com assistência médica no local, podendo-se ler nos braços da maca, uma referência á Cruz Vermelha Mexicana.
2. “Auto-retrato Sentada” 1931- (5). Desenho durante sua estada nos EE. UU, com evidência ao sofrimento pela ferida que tinha no pé direito e que terminaria após várias cirurgias parciais, terminaria amputado com a perna, em geral representados a esquerda devido o hábito de desenhar sua imagem refletida no espelho.
3. “Frida e o Aborto” ou “O Aborto” – 1932 (5). Uma das provas de desenhos relativos ao seu aborto, com anotações criticas ao desenho. Apesar da simplicidade do desenho, estão bem representadas as fases de fecundação, mitoses, feto formado e unido pelo cordão umbilical enrolado em seu membro inferior e que sai do útero. Uma linha pontilhada divide o seu lado doente, com alterações vasculares e cuja hemorragia aduba o chão, para o crescimento de plantas, sendo convicta de que a vida começa na terra. Seria uma analogia ao “do pó viemos e ao pó voltaremos”. Um detalhe interessante, é que nesse deste desenho assina Frieda Rivera.
4. “O Hospital Henry Ford”, ou a “Cama Voadora” – 1932 (5). Quadro de sua internação para o aborto, com detalhes que reforçam o seu abandono e seus sentimentos pela perda do filho. Com hemorragia abundante, por cordões, está unida a um tronco de manequim com evidência para os problemas da coluna vertebral e órgãos pélvicos, também, ao feto abortado, uma pelve óssea com deformidades que levaram ao vício pélvico obstétrico prejudicando sua paridade, um caracol símbolo da fertilidade. Aparecem ainda, instrumento hospitalar e uma orquídea, símbolo da sexualidade e presente de Diego. No fundo, imagem industrial dos Estados Unidos e que não gostava.
5. “O Meu Nascimento” ou “Nascimento” – 1932 (5). Visão que a artista tinha do seu próprio nascimento, já com fisionomia de adulta. Não é um parto totalmente normal, devido a apresentação occípito-sacra sendo evidente o estiramento do pescoço para liberação do ombro, sugerindo necessidade de manobra obstétrica em ambiente hospitalar. A cabeça da mãe coberta e representada num retrato acima da cama, lembra o seu falecimento ocorrido durante a execução deste quadro.
6. “Os meus Avós, os meus Pais e Eu”- 1936 (5). É a história genética da descendência com os pais e avós maternos mexicanos e os paternos alemães. Nos jardins de sua casa em Coyoacán ainda menina e com defeitos causados pela poliomielite, segura os laços familiares, valorizando os maternos, com cenas de fecundação e gestação da mãe também com alguma sugestão de anormalidade, com provável situação transversa, e também, uma polinização da flor de cactos um dos símbolos do cenário da paisagem mexicana.
7. “Minha Ama e Eu” ou “Eu a Mamar”- 1937 (5). Amamentada por uma ama usando uma máscara de pedra teotihuacan pré-colombiana. Relacionamento distante, falta o contato com os olhos no olhos apesar do leite farto que como a chuva abundante, da força e vida á vegetação.
8. “Recordação” ou “O Coração”, (l937) (5). Em grande angústia e surrealismo, retira o seu coração de grande volume lembrando uma grave insuficiência cardíaca, traduzindo o tamanho da sua dor e mostrando mutilações e deformidades relativas á sua incapacidade afetiva e amorosa, como também seu crônico mal orgânico.
9. “O Que Vi na Água” ou “O Que a Água me Deu” – 1938 (5). Lembrando um surrealismo, deitada na banheira de fisioterapia, ilustra a visão dos seus deformados pés parcialmente mergulhados na água e vários acontecimentos de sua vida e que podem aparece em outros quadros.
10. “As Duas Fridas” – 1939 (5). Após a separação com Diego Rivera, neste quadro mostra sua dupla personalidade. A mexicana e a européia unidas por uma única artéria (veia cava superior?) que sai dos dois corações, havendo hemorragia com risco para a rejeitada parte européia.
11. “O Sonho” ou “A Cama”, 1940 (11). Por cima da cama, uma figura esquelética com o corpo gessado e vários foguetes amarrados representaria o Judas muito festejado no México e sempre com a sugestão de liberdade pelo suicídio. Somado aos pés enraizados e galhos pelo seu corpo na cama, pode ser interpretado como sua prisão no leito e seus pesadelos reforçados pelas formas difusas do fundo do quadro. Teria naqueles sonhos idéias suicidas?
12. “A Coluna Partida” – l944 (5). Sustentada por um colete metálico, em grande crise dolorosa, neste auto-retrato mostra uma coluna jônica partida em vários lugares, lembrando em analogia, sua coluna vertebral fraturada. Sua fisionomia com abundantes lágrimas e os cabelos em desalinho, expressam um estado de profunda tristeza e desalento. Dezenas de alfinetes que por algum motivo nas mamas respeitam as aréolas e o mamilos, demonstram as suas dores generalizadas. Estariam nestes alfinetes uma premonição da acupuntura? A paisagem do fundo é de solidão.
13. “Sem Esperança”-1945 (5) – Neste quadro a artista em conseqüência de anorexia nervosa pelos problemas orgânicos, conflitos familiares e muito emagrecida, demonstra estar enjoada de uma dieta para “engordar a força”.
14. “Moisés” ou “O Núcleo da Criação” – 1945 (5). Quadro inspirado num livro de Sigmund Freud, “Moisés, o Homem e a Religião Monoteísta”, premiado na exposição anual no Palacio de Bellas Artes. Um grande sol com suas irradiações, envolve todos os personagens históricos religiosos, políticos e cenários de sua vida. Suas dificuldades obstétricas são bem expressas nas cenas de fecundação e gestação com a primeira mitose e em corte, o útero com feto em apresentação cefálica, cordão umbilical, placenta, membrana amniótica. Por algum motivo, na representação dos anexos as tubas uterinas estão bem definidas, mas, os ovários estão ausentes. Suas lágrimas que se concentram no colo do útero pela sua esterilidade, dirigem-se para o personagem central, o bebê Moisés tem a fisionomia adulta de Diego Rivera, com o terceiro olho da sabedoria na testa.
15. “Arvore da Esperança, Mantém-te Firme” – 1946 (5). Neste quadro, em crise de revolta com seus médicos, enfoca os maus resultados de cirurgias na coluna, com seqüelas de cicatrizes que “esses filhos da mãe me fizeram”, onde demonstra estar a procura de um alento.
16. “O Veado Ferido” ou “O Veadinho” ou “Eu Sou um Pobre Veadinho” – 1946 (5). Neste quadro, também expressa o seu desapontamento pelo fracasso de uma outra cirurgia na coluna, com flechas espetadas em seu dorso mantendo suas dores e depressões.
17. “O Sol e a Vida” – 1947(5). Nos detalhes deste quadro, as formas estilizadas das plantas são símbolos dos genitais femininos e masculinos. O sol que dá vida surge ao centro. Ainda um feto lembra seus abortos e, nos pistilos das flores, lágrimas pela infertilidade que se transformou em uma esterilidade secundária.
Referências
1. Caldeira, Geraldo e Martins, José Diogo -“Psicossomática – Teoria e Prática” – MEDSI – Editora Médica e Científica Ltda, Rio de Janeiro, Brasil, 2001.
2. Catarrivas, Ivete – “México Ciudad de Los Palacios”- Editur, S. A. – México, D. F. (s.d.)
3. Civita, Victor – Gênios da Pintura, Editora Abril Cultural Ltda, São Paulo, Brasil, 1967.
4. “Enciclopédia Barsa” -Encyclopaedia Britannica Editôres Ltda.- Companhia Melhoramentos de Sãp Paulo – Industrias de Papel – 1969.
5. Kettenmann, Andrea -“Frida Kahlo (l907 – 1954) Paixão e Dor – Tradução Sandra Oliveira, Lisboa”- TASCHEN GmbH, Colônia, Alemanha, 2001.
6. Lynton, Norbert – “Arte Moderna”- O Mundo da Arte, Encycloppaedia Britannica do Brasil Ltda. – AGGS – Industrias Gráficas S. A., 1978.
7. Magi, Diovana – “Toda Paris” (Edicion Española) – Casa Editrici Bonechi – Firenze, Paris, França, 1990.
8. Nunziato, Silvio – “Favorito dos Astros” – MONET, Revista NET – nº 12, Editora Globo, Rio de Janeiro, Brasil, 2004.
9. “Tesouro da Juventude” – W. M. JAKSON, INC. – Gráfica Editora Brasileira Ltda, São Paulo, Brasil, 1958.
10. Villegas, Cosio Daniel – Bernal, Ignácio Torcano – Moreno, Alejandra – González, Blanquel – Eduardo, Meyer Lorenzo – “Historia Mínima de México” – El Colegio de México (CM) – Conselho Editorial Aeroméxico 50 – México, 1984.
11. Zamora, Martha – “Post Cards” – Chronicle Books – San Francisco, California, EUA, 1991.