Por Guilherme Santiago Mendes
Quem vê o Arrudas cruzar BH, espremido pelo concreto, duvida até que ele seja um rio: parece mais canal pestilento ou ribeirão fedorento.
Para o bem da cidade foi preciso confiná-lo e só raramente, quando muito nervoso, ele sai da masmorra para causar alvoroço.
Poucos sabem que lá no final da Andradas ele se liberta, e com um grito de extremo alívio, se joga numa cachoeira longa para fluir caudaloso, mesmo que espumante e mal cheiroso.
Corredeiras, grandes lajes de pedra e margens amplas, ainda machucadas pelo seu último acesso. É como se a natureza lhe devolvesse o prazer de ser rio, que gosta mesmo é de correr largo e profundo. Um pouco à frente mergulha-se nas generosas águas das Velhas, com certo pudor, constrangido pela sujeira e o mau odor.
O Arrudas, mesmo adoecido e confinado, não se abate. Valente, exala até um aroma de esperança, porque sabe que logo adiante, ainda que tardia, haverá liberdade!