Entrevista dada à coluna da jornalista Anna Marina do “Estado de Minas”, no dia 19 de julho de 2017, quarta-feira, pelo Acadêmico Ataualpa Pereira dos Reis.
“No período do inverno as mudanças favorecem as crises respiratórias infecciosas e inflamatórias,incluindo a Asma. As pessoas tendem a permanecer mais tempo nos ambientes fechados e em maior contato com os alérgenos, a ter mais infecções virais que se disseminam mais facilmente nestes ambientes, e o próprio tempo seco e frio dificulta a dispersão dos poluentes e propicia as mucosas a ficar menos lubrificadas pelos mucos,deixando- as mais vulneráveis aos agentes desencadeantes.
Novos desenvolvimentos tecnológicos podem mudar este quadro e podem ser considerados a medicina de precisão na Asma. Em primeiro lugar as intervenções multifacetadas e mais abrangentes de controle do ambiente domiciliar que são intervenções que visam as causas da doença (eliminar ácaros, poeiras, pelos de animais, fungos, restos de barata) e tornam o ambiente mais adequado e mais limpo no sentido de não apresentar estes fatores causais. Em segundo lugar a identificação de alimentos causadores, uso de formulas hidrolisadas, prebióticos, probióticos e outros produtos microbianos que podem reduzir a incidência de Dermatite Atópica, que antecede a Asma. Em terceiro, os novos medicamentos que visam a prevenção da doença, não deixando o indivíduo entrar em crise aguda e resolvendo a inflamação crônica subjacente que mantém a Asma. Neste sentido cada vez mais temos medicamentos constituídos de corticoides inalados , sem repercussão indesejável no organismo, broncodilatadores de efeito prolongado para uso uma ou duas vezes ao dia e que podem ser associados em um só medicamento capaz de alcançar cada vez mais a intimidade do pulmão por levarem pequenas partículas em uma névoa que chega até as pequenas vias aéreas, que são 90% da arvore respiratória, antileucotrienos que atuam na Asma impedindo o seu mecanismo e bloqueando-a sendo portanto de uso preventivo. Em quarto lugar a imunoterapia (vacina) que é dirigida para a causa da Asma e visa modificar o organismo no sentido de levar a uma tolerância imunológica com proteção das crises, de efeito bastante duradouro após a suspensão do tratamento, podendo permanecer por 15 anos ou mais. Também as vacinas para influenza são capazes de prevenir Asma, pois os vírus são grande causa de Asma em crianças até 5 anos de idade. Em quinto o desenvolvimento de biomarcadores capazes de individualizar o tipo causal da Asma, identificando fenótipos e endotipos e levando a uma medicina personalizada inexistente anteriormente. Em sexto os imunobiológicos que são montados por engenharia genética em laboratório e são bloqueadores da resposta imunológica existente na Asma, constituindo hoje medicina de ponta ( omalizumabe, mepolizumabe, benralizumabe, dupilumabe e outros em desenvolvimento). Em sétimo a epigenética que aumentou muito o conhecimento do mecanismo genético da Asma e que torna possível, em muito em breve, controlar o desenvolvimento da Asma e até mesmo impedir que ela se desenvolva, silenciando os genes predisponentes que levariam uma criança a desenvolver a Asma. Portanto, e por todos estes motivos, pode-se dizer que estamos entrando na era da cura da Asma.”
Ataualpa P. Reis- Professor de Pós Graduação em Alergia e Imunologia e Membro Titular da Academia Mineira de Medicina.