Sessão Solene – Posse da Diretoria da AMM – 1995

    SESSÕES SOLENES
    POSSE DA DIRETORIA
    Discurso Acadêmico Paulo Adelmo Lodi

    Meritória Instituição já Consolidada

    Há mais de 3 lustros ao empossar-me na Academia Mineira de Medicina salientei – “Atravessar os pórticos desta casa para ingressar como Membro Titular deste colendo cenáculo é, para mim, o momento mais emocionante da minha vida”. Há, precisamente, dois anos, novo enlevo para o meu espírito, a investidura como presidente do nosso sodalício, após eleição em consenso unânime.
    Poucos dias, após a minha posse fui acometido por um processo coronariano que exigiu terapêutica cirúrgica, uma angioplastia. Recebi então novas demonstrações de apreço, amizade e ternura. Uma desvelada assistência moral dos companheiros de Diretoria, Comissão Econômica, Conselho Superior e de muitos outros confrades, durante o período de internação hospitalar. Felizmente recuperei-me, rapidamente, e reassumi com entusiasmo a direção dos trabalhos do nosso querido silogeu, que se desenvolveram, proficuamente, graças à ajuda inestimável dos colegas da Diretoria, a quem apresento agora a minha profunda gratidão.

    No momento, a recondução à presidência da Casa de Cícero Ferreira pode significar anuência ao labor praticado, mas acredito que corresponda mais à uma infinita bondade e afetuosa amizade. Já dizia Cícero, na era Pré-Cristã – “Viver sem amigos não é viver”.
    O pronunciamento de posse em uma reeleição deve cingir-se a uma alocução.
    Alguns diretores deixam o corpo dirigente, por disposição estatutária e são substituídos por outros acadêmicos igualmente valorosos.
    À atividade científica, um dos alvos primordiais do nosso sodalício, embora conservando o vigor das administrações anteriores, procuramos conferir uma dimensão diferente. Estimulamos a realização da velha mesa redonda sobre temas de alta relevância médica. O melhor subsídio em uma mesa redonda reside no fato que o assunto é versado em sub-temas por colegas especializados que relatam, com sua vivência, os aspectos mais avançados e atuais da sua área. E ainda mais, cada relator polariza o seu poder de influência, aumentando a freqüência dos presentes, o que torna o debate mais vivo e atraente, conferindo um colorido especial à reunião. Como exemplo, podemos citar o palpitante e momentoso tema “Engenharia Genética. Projeto Genoma Humano”, que despertou singular interesse, sendo abordado o pensamento científico, religioso, jurídico e ético-profissional, comparecendo à importante reunião cerca de 100 pessoas, com participação de Acadêmicos, médicos não pertencentes a este silogeu, sociólogos, advogados, psicólogos e leigos.
    As expansões do espírito não foram descuradas. Uma instituição de medicina deve empenhar-se, igualmente, no aperfeiçoamento da cultura humanística, cultura filosófica como, também da cultura artística, mormente da cultura literária. “Não sabe medicina aquele que só conhece medicina”. As reuniões culturais do nosso cenáculo versaram principalmente sobre as relações da arte hipocrática com a literatura, música, pintura e escultura, quer no campo universal como na órbita do Estado de Minas Gerais, onde sobejam colegas que se destacam nas atividades criadoras do belo. Fomos brindados também como uma brilhante palestra do Maestro Professor Sérgio Magnani sobre o tema “Teorias e Práticas dos Efeitos Psicológicos da Música”.
    Inauguramos uma galeria histórica de fotografias em que figuram Patronos e Acadêmicos da nossa instituição. Há fotos que documentam a visita de renomadas personalidades científicas estrangeiras a nossa Capital, como Madame Curie, em 1926, a do Professor Jean Louis Faure, em 1927, a do Professor René Leriche, em 1938, todos franceses e a do Professor Henry Bockus, dos Estados Unidos, em 1962. A partir de 1984 visitaram a nossa Capital e foram incluídas na galeria, fotografias do Professor Henri Sarles, de Marselha e da Dame Sheila Sherlock, de Londres, ambos eleitos Membros Honorários deste silogeu. Um preito à memória médica brasileira e internacional.
    Instituímos um concurso de Histórias Médicas aberto aos Acadêmicos (exceto os dos órgãos dirigentes) e a todos os facultativos residentes no Estado de Minas Gerais, colimando o incentivo ao aprimoramento da arte literária, a mais fácil de ser fruída pelo homem. A propósito, um pensamento de Pedro Nava – “Medicina, antes de mais nada é conhecimento humano. E este está tanto nos livros de patologia e clínica como nas obras de Proust, Flaubert, Balzac e Rabelais, poetas de hoje, ontem, nos modernos, como nos antigos”.
    O plano de trabalho para o próximo biênio consiste em continuar labutando para o desenvolvimento científico, cultural e histórico desta casa, que este ano comemora o 25° aniversário. Jubileu de Prata. Prata metal branco, brilhante, denso, maleável e dúctil. Estas características podem simbolizar a atuação dos acadêmicos na assistência moral e clínica ao próximo. O branco da paz sempre existiu em seus corações. As suas personalidades revestiram-se de brilhante espiritualidade. O labor dos seus ofícios expressou-se por densa atuação em benefícios da humanidade. O temperamento maleável dos colegas foi uma constante no trato indulgente com os doentes. As situações difíceis da profissão exigiram contemporização, que só as pessoas de índole dúctil podem levar a bom termo.
    E para arrematar, caros amigos – A Academia Mineira de Medicina criada por ilustres colegas, sob a inspiração dos mais elevados ideais, construída com argamassa da melhor qualidade, será com certeza, obra imarcescível.

    Muito obrigado,