Contribuição ao estudo epidemiológico das lesões traumáticas de mãos e dedos por acidentes do trabalho em indústria siderúrgica – 1998

    Data de publicação: 05/05/1998

    Gilberto Madeira Peixoto

    Após breve revisão da literatura especializada em ocorrência de lesões das mãos e dedos por acidente do trabalho em nosso meio, a autor apresentou analise de 1996 prontuários de acidentes do trabalho com perda de tempo ( CPT) ocorridos no período de 1967/1996, na Unidade de Sabará da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, tendo encontrado 583 casos de comprometimento de mãos e dedos ( 29,20%) e 14.233 dia perdidos em decorrência dos mesmos (38,69%).
    A mão direita participou com 52,48% dos casos e a maior freqüência de lesões foi encontrada nos dedos.
    Entre os principais tipos de lesões encontradas, destacaram-se as feridas (38,25%), as contusões (24,52%), e as fraturas (18,01%). Menciona ainda as seqüelas e incapacidades que podem ocorrer, enfatizando os cuidados básicos no atendimento aos acidentados.
    Conclui que tais acidentes são importantes, não só pelo aspecto econômico (freqüência e dias perdidos), mas, sobretudo pelo aspecto social e psicológico do acidentado, muitas vezes sujeito a lesões incapacitantes.
    Finalmente, estabelece um plano de prevenção dos acidentes, focalizando inicialmente a eliminação de condições inseguras, (melhoria das condições de trabalho), o treinamento do operário e o estudo do equipamento de proteção individual adequado (proteção das mãos) mostrando a seguir um programa de conservação de mãos, que basicamente estabelece: o reconhecimento do risco, a campanha educativa, e a reciclagem (instrução do pessoal já treinado).

    Gilberto Peixoto

    CAPÍTULO I
    INTRODUÇÃO
    As estatísticas oficiais de acidentes do trabalho no Brasil nos anos 70 e 80, apontavam uma tendência ao declínio dos mesmos mostrando ainda que a maioria dos acidentes liquidados, segundo a incapacidade temporária, representava perda de até 15 dias.
    O quadro manteve-se estável até 1990, considerando-se a relação entre trabalhadores segurados e o número de acidentes ocorridos.
    A partir daí, o INSS mostra a mudança do quadro e a tendência do crescimento do número de acidentes do trabalho, principalmente nos anos de 1994/95/96, inclusive com aumento das incapacidades permanentes e óbitos.
    Os 428.072 acidentes do trabalho, ocorridos no país em 1996 custaram aos cofres da Previdência Social: R$ 1.198.396.007,00, em pagamento de pensões, auxílios doenças e aposentadorias.
    Os acidentes do trabalho com acometimento de mãos e dedos apresentam alta freqüência em nosso meio embora haja poucos estudos epidemiológicos, constituindo uma praga social em virtude das características sociais e psicológicas próprias.
    As estatísticas internacionais também apontam a importância dos traumatismos das mãos e os problemas sócio econômicos que advém, mostrando que a França, ocupam lugar de destaque, concorrendo com cerca de 25% das jornadas de trabalho perdidas.
    A mão é importante elemento de percepção, suprindo muitas vezes, pelo tato, a atividade visual e como elemento de comunicação, substitui até mesmo a linguagem falada, pois apresenta linguagem de expressão através de seus gestos.
    ‘’Consideradas como ferramentas completas permitindo inúmeros movimentos e grande maleabilidade, é com as mãos que sentimos os objetos, tocamos, agarramos, levantamos, apertamos etc. E é exatamente com tão extraordinário dispositivo que às vezes o homem torna-se incoerente, justamente por não dar atenção a esta extraordinária máquina, não dando a proteção de forma adequada, sabendo que é extremamente vulnerável aos ataques produzidos por abrasões, cortes, impactos, etc.’’
    O aumento dos acidentes das mãos, se dá pelo progresso da civilização, e as máquinas criadas para ajudar as mãos humanas, freqüentemente as atingem, e de fato, ao analisarmos qualquer tarefa, iremos notar, que cada uma delas sempre apresenta algum perigo, às mãos do trabalhador o que nos leva a uma conscientização maior aos programas prevencionistas.
    Excepcionalmente uma lesão de mão levará à morte, porém aleja com freqüência, o que condiciona no acidentado um aspecto psicosocial ingrato, exigindo do Médico do Trabalho, amplo conhecimento epidemiológico, clínico, tático e preventivo.

    CAPÍTULO II
    PROPOSIÇÕES
    A partir dos dados apresentados, observa-se que o assunto ainda não é bem definido, surgindo uma justificativa para estudo de tão relevante tema, apresentado nesta contribuição cujos objetivos são os seguintes:
    1. Contribuir para o estudo da ocorrência de lesões de mãos e dedos, provocadas por acidentes do trabalho, a partir da análise de dados pesquisados em uma indústria siderúrgica.
    2. Ampliar o conhecimento da epidemiologia de lesões de mãos e dedos provocadas por acidentes do trabalho, no Brasil.
    3. Devido a importância dos acidentes, oferecer um programa de prevenção de acidentes e conservação das mãos a ser utilizado na indústria objetivo deste estudo.
    4. Oferecer dados que mostrem a magnitude do problema, e que o mesmo seja enfocado como problema de Saúde Pública.

    INCAPACIDADES
    Encontramos 44 casos de incapacidades parciais, por sequelas, das quais, muitas foram indenizadas pela ‘’ Previdência Social’’ (REMP), de acordo com critérios daquele órgão.

    COMENTÁRIOS E DISCUSSÃO
    Em nosso estudo, levando-se em consideração os acidentes com perda de tempo, pudemos verificar que representaram cifra elevada, de 29,20%, mostrando que traumatismos das mãos e dedos são frequentes conforme demonstram claramente os estudos de DORIA, OLIVEIRA, PINTO, BARCELLOS, SEGRE & PASCOA, além de ABREU, FARIA, SILVA & BARCELLOS, BINDER & Cols.
    A mão direita apresentou frequência maior de lesões, demonstrada também em trabalhos de WILKES, GAMA & MEIRA, BARCELLOS, entretanto FARIA, SILVA & BARCELLOS, encontraram pequena superioridade de lesões de mão esquerda no grupo estudado, o que vem reforçar o propósito de um estudo, mais amplo e complexo desses acidentes, em todas as atividades profissionais.
    Quanto aos traumatismos de dedos, verificamos que são mais frequentes, havendo predomínio dos dedos da mão direita e preponderância do I, II, III dedos em relação aos outros e observamos ainda que o anular esquerdo foi mais acometido que o direito, fato que também não encontramos explicação.
    As lesões com localizações múltiplas, ocorreram com frequência significativa, apresentando gravidade por sua patologia variável.
    Quanto ao tipo de lesão, as feridas, ocuparam lugar de destaque comfirmando descrição de outros autores, seguindo-se as contusões e fraturas.
    As amputações traumáticas podem ser consideradas frequentes e ocorreram em 6,51% dos casos, representando sérios riscos à integridade do trabalhador, devendo merecer tratamento adequado, e acompanhamento rigoroso, principalmente no que diz respeito à reabilitação.
    O número de trabalhadores não qualificados (serventes) atingidos fica em torno de 30%; E quanto à idade, observamos 44% de acidentes em indivíduos jovens, até 30 anos, o que vem corroborar a impotência da prevenção (e treinamento).
    Quanto ao tempo de serviço na empresa, cerca de 42% dos acidentados atingiam até 3 anos, o que vem demonstrar a impotârncia do treinamento e da reciclagem.
    Finalmente quanto ao tempo decorrido na jornada até a eclosão do acidente, o maior percentual encontrado ficou entre 4 a 6 horas trabalhadas mostrando que poderá haver influência do cansaço.
    A gravidade dos acidentes de mãos e dedos é decorrente de grande número de dias perdidos (incapacidades temporárias), e sequelas que podem advir, além de incapacidades permanentes que muitas vezes dificultam a reabilitação do operário.
    O correto atendimento e complicados processos reconstrutivos secundários, que poderão comprometer a qualidade da recuperação.
    O polegar deve merecer destaque especial devido a sua impotância funcional e a frequência com que é acometido.
    Lamentamso que as lesões traumáticas de mãos e dedos por acidentes do trabalho, muitas vezes são atendidas por médicos pouco experimentados que confiam os curativos a subalternos, às vezes incapazes de prestat os devidos cuidados, advindo deformidades e sequelas perfeitamente evitáveis.
    Desta forma acidentados não podem ser tratados rotineiramente por pessoas não habilitadas, e as lesões por pequenas e insignificantes que sejam devem merecer todo cuidado, o mais precocemente possível para evitar consequência danosas e não trazer sequelas irreparáveis.
    Por menores que sejam as lesões das mãos, os acidentes interrompem seu trabalho durante certo tempo, entretanto os problemas resultantes dos traumatismos de mãos não poderão ser analisados exclusivamente em função da perda da produtividade, ou dos gastos com o acidentado, pois o homem deverá ser considerado principal elemento de produção e não uma peça substituível.

    CAPÍTULO VI
    CONCLUSÕES
    Apresentando breve revisão da literatura, pudemos verificar que em nosso meio, ainda há poucos estudos epidemiológicos sobre ocorrência de acidentes com comprometimento de mãos e dedos; Tais acidentes são considerados de suma importância nos centros em desenvolvimento e industrializados, e são muito frequentes.
    Tais fatos justificam o nosso objetivo inicial.
    Procuramos mostrar nesta contribuição, que os acidentes do trabalho com acometimento de maõs e dedos ocupam lugar de destaque na infortun´stica da indústria siderúrgica, e segundo nosso achados, representaram 29,20% de todos os acidentes (C.P.T) estudados.
    Notamos pequena dominância da mão direita, embora pouco significativa, entretanto notamos nítida predominância ao acometimento dos dedos, principalmente os dedos I,II e III, o que torna mais significativa a importância desses acidentes.
    Entre as lesões, as feridas se destacaram(38,25%), seguindo-se as contusões(24,52%) e fraturas (18,01%).
    As incapacidades são importantes, e às vezes, conforme relatos da literatura, podem advir em decorrência de tratamento inadequado, o que nos leva a estabelecer um plano rígido de atendimento e acompanhamento dos acidentados.
    Finalmente, um plano preventivo se impõe e oferecemos um programa de prevençaõ dos acidentes, e de proteção às mãos através de 3 fatores principais : eliminaçãos de condições inseguras, treinamento do operário e estudo do equipamento de proteção individual adequado, além do Programa de Conservação das mãos através do Reconhecimento do Risco, campanhas Educativas e Instruçãos do Pessoal Treinado.