MÉDICOS JUBILADOS
Discurso Saudação aos Médicos Jubilados – Acadêmico Paulo Adelmo Lodi
Palavras proferidas pelo Acadêmico Paulo Adelmo Lodi em saudação à Turma Graduada em 1947 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Jornada Longa e Apostolar
Nobre distinção confere a Associação Médica de Minas Gerais à Academia Mineira de Medicina para que um dos integrantes desta, faça a saudação aos médicos que completam o cinqüentenário de sua formatura pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. A sublime honraria avulta-se na sua dimensão, porque recebemos também a delegação de cumprimentar os colegas que foram eleitos Personalidades Médicas do ano, em um pleito constituído por representantes das mais importantes instituições médicas de Minas Gerais, presidida pelo Dr. Lincoln Freire, supremo dirigente da nossa célula-mater.
Em outubro de 1996, ao ensejo do seu cinqüentenário, a Diretoria da Associação Médica condecorou o nosso silogeu com uma bela placa de prata, por serviços prestados à ciência e cultura médicas. Ao Dr. Lincoln reiteramos os nossos mais sinceros agradecimentos. Ao Acadêmico Fernando Araújo, Presidente da Academia Mineira de Medicina, o reconhecimento pela indicação do nosso nome para discursar nesta solenidade.
Jubileu de Ouro de graduação da turma de 1947. O ouro simboliza o brilho, beleza, riqueza e nobreza. Na longa esteira do tempo de sua atividade profissional quanto brilho nas realizações da profilaxia das doenças do ser humano, quanta beleza de sentimentos na assistência ao paciente, quanta riqueza de medidas terapêuticas na longa jornada do evangélico mister e quanta nobreza espiritual na satisfação interna desses elevados propósitos. Os colegas possuem mais de 5 décadas consagrados à medicina: 6 anos do curso médico e 50 anos da nobre atividade profissional. Os “dourados” de 1997 têm um apostolado humanitário, longo para uma bela narração. Muito a propósito uma citação do escritor e filósofo inglês Thomas Fuller – “Sem a história o espírito humano é míope, só vendo o que está sob os olhos”. A messe conquistada pelos caros colegas ao longo do tempo encerra firmes labores com êxitos, vitórias e alegrias, mas também dificuldades, óbices e sofrimentos morais. A sua atuação foi fecunda, produzindo frutos de elevado alcance social. Para alcançar esses desígnios foi necessário muito trabalho e estudo. O sentido do estudo e do labor foram incitados em seus espíritos pelo incentivo de seus professores, pelo estímulo de seus pais e pela vontade própria de cada um. Alento eficaz para beber novos conhecimentos, inspirado por um fanal cintilante – o ideal. A respeito, o insigne e saudoso mestre Hilton Rocha dizia: – “O ideal é a concretização de anseio racional, legítimo e estimulante, é mirífico, excitante, porque acicata os fortes”.
Aos familiares dos colegas aureolados, os nossos vivos cumprimentos pela colaboração à bela porfia cumpridas.
Aurélio Pires foi o ilustre arauto da fundação da Faculdade de Medicina. Em artigos escritos em jornais, e em discursos em eventos importantes, desenvolveu veemente campanha de 1891 a 1911. Esse paladino, coração magnânimo, farmacêutico, notável humanista, excelente orador pela sua pena de escritor e pelo seu verbo de tribuno, conseguiu, irmanado com 12 médicos cultos e idealistas, liderados pelo insigne timoneiro Cícero Ferreira, a instalação da Faculdade em 1911.
A Faculdade de Medicina em 1947 já conquistara destaque nacional pelo ensino que oferecia aos seus discípulos. Era, materialmente, pobre, mas rica na esfera intelectual e moral, pois possuía um abalizado corpo docente, na sua grande maioria, com plena consciência dos seus deveres. O convívio dos colegas homenageados durante os anos do curso médico levou à formação de sólida amizade. Uma camaradagem adquirida na freqüência ás aulas, hospitais e bibliotecas e, principalmente, no contato mais próximo nas horas de estudo em conjunto. Afeição edificante que, após a formatura amadureceu, fortaleceu e se tornou perene.
Alfredo Balena, notável médico, sábio professor de Clínica Médica, dirigia a Faculdade com elevado senso de honradez, brandura e equanimidade. Conciliador, era comovente a veneração que lhe devotavam os professores seus colegas de Congregação e os estudantes. Mestre na harmonização da função de diretor com os encargos do magistério. Oswaldo Costa, paraninfo da turma, destacada figura da Dermatologia nacional, possuía o inefável prazer em ensinar a especialidade e vocação para formar discípulos. Ajusta-se aqui uma sentença de Hilton Rocha “Ensinar não é profissão, mas vocação”. Estudioso obstinado, o Prof. Oswaldo publicou muitos trabalhos científicos, e era freqüentemente convidado para proferir conferências em vários Estados brasileiro e em importantes centros de estudo do exterior.
Os colegas que se graduaram em 1947 cursavam o 5º ano médico quando foi fundada a Associação Médica de Minas Gerais. Os médicos em geral, viviam na sua pluralidade, isolados, com encontros somente nos hospitais. Urgia reuni-los para que a classe obtivesse vigor em suas diversas áreas – científica, ética e econômica.
Assim em 1946, o saudoso Prof. Otto Cirne liderando um pugilo de médicos, congregou os representantes das poucas sociedades científicas especializadas então existentes em Capital. Em 1948, o inesquecível Prof. Marques Lisboa, como Presidente da Associação Médica, estruturou-a com objetivos científicos, éticos e econômicos, e com âmbito estadual. A fundação e os primeiros anos constituíram a fase heróica da nossa Associação.
O eminente cientista brasileiro Carlos Chagas indagado certa vez como se faz ciência, respondeu: – “Primeiro com homens, depois com problemas, e somente mais tarde com instalações e equipamentos”.
A nossa célula-manter, entretanto, não perdeu tempo, pois na gestão de Marques Lisboa, 2º diretoria, em 1948, adquiriu com auxílio da Prefeitura Municipal e de numerosos médicos a casa da Avenida João Pinheiro, 161. Com o passar dos anos, a Associação tendo diretorias constituídas de médicos competentes, dedicados e idealistas, dotados de espírito cívico e ânimo inquebrantável, cresceu e se tornou uma sociedade com grandes centros de estudo e prestigiada no cenário médico estadual, nacional e internacional. Atuou firmemente no campo científico, promovendo Congressos polivalentes de 2 em 2 anos, para aperfeiçoamento dos médicos da Capital e do interior, Jornadas Médicas que se realizavam em várias cidades do nosso Estado, com temas solicitados pelas Regionais, Simpósios, Mesas Redondas e Conferências, na sede. Foi criada uma Revista de excelente nível publicando assuntos médicos e de história da medicina. Aqui, resolutamente, nos movimentos da defesa da classe do nosso nobre mister, instalou o Departamento de Previdência com seguro de vida em grupo e um fundo financeiro para ajudar médicos e viúvas de médicos com dificuldade pecuniárias.
É com elevado júbilo e imenso envaidecimento que acompanhamos a edificação cientifica, cultural, ética e física (construção da sede atual com lucros de um consórcio de automóveis) dessa respeitável mansão associativa, que é hoje a Associação Médica de Minas Gerais. O colega e Acadêmico José de Laurentys Medeiros escreveu um excelente livro histórico, apresentado por ocasião do cinqüentenário de fundação da Casa dos Médicos de Minas.
Uma das promoções importantes da Associação é a homenagem que presta a 5 médicos. São colegas que apresentam elevado destaque no seu campo de atuação como Personalidades Médicas do Ano. Os laureados são: Acadêmico Wilson Luiz Abrantes, Clinica; Acadêmico Lucas Vianna Machado, Científica; Dr. Hélio Osório de Paula, Associativa; Acadêmico Alcino Lázaro da Silva, Docente e Acadêmico Archimedes Theodoro, Saúde Pública. Uma reverência à Academia Mineira de Medicina, pois contribuiu com 4 confrades.
Vários Acadêmicos já sugeriram, pessoalmente, ao Dr. Hélio Osório ingressar no nosso sodalício. Entretanto, o colega com belas qualidades morais e intelectuais, é dotado de rica modéstia. Trata-se de renomado proctologista, com vasta clientela, ex-docente da Faculdade de Medicina e Ex-Presidente da Associação Médica de Minas Gerais. Wilson Abrantes, muito estudioso, notável cirurgião, dotado de bela técnica e tática precisa, especialmente em cirurgia abdominal e cirurgia de urgência; Lucas Machado, renomado ginecologista, alicerçado em profundos estudos anátomo-patológicos, sempre convidado para proferir conferências em congressos e herdeiro das peregrinas virtudes paternais; Alcino Lázaro, estudo e labor cirúrgicos são constantes diárias em sua atividade médica e dotado de grande capacidade para organizar congressos e orientar teses; e Archimedes Theodoro, sanitarista de elevada competência, um lutador insuperável no combate às epidemias e endemias; Ex-Presidente do Conselho Regional de Medicina, um primoroso artista da palavra escrita e falada. Já dizia Montaigne – “O ganho do nosso estudo é termos nos tornado melhor e mais sábio”.
No patrimônio da nossa saudade, os mestres, colegas e familiares falecidos.
E para finalizar, prezados amigos. A medicina é a mais nobre das profissões. Apostolar missão. Aqueles que a professam com devotamento, bondade, carinho e ética, terão a recompensa divina.
Muito obrigado.
Acadêmico Paulo Adelmo Lodi.