LANÇAMENTO DO LIVRO “A HISTÓRIA DE PEÇANHA”
Discurso do Acadêmico Francisco Alves dos Reis
Discurso proferido pelo Acadêmico Francisco Alves dos Reis, no lançamento do livro “A História de Peçanha” do Acadêmico Ruy Pimenta Filho, em 10 de maio de 1995.
“A História de Peçanha”
As minhas primeiras palavras são de reconhecimento a D. Mary Pimenta e filhos, por me convidarem para apresentar este novo livro dessa figura admirável, e por todos admirada, de grande amigo, colega, confrade e companheiro que foi Ruy Pimenta Filho. Também, ao presidente em exercício da Academia Mineira de Medicina, Acadêmico Fernando Araújo, por designar-me como arauto desse importante cenáculo da medicina mineira, nessa oportunidade.
Já dizia Cícero que “pela amizade, ficam presentes os ausentes, ricos ou pobres, fortes ou fracos, e, maravilha das maravilhas, até os mortos revivem”. É o que assim desejo e espero, estará acontecendo nesta noite.
Nascido em Peçanha, durante seu curso superior foi Professor de diferentes matérias em distintos Colégios de Belo Horizonte e na Faculdade de Filosofia da UFMG.
Diplomado em Medicina, em 1946, inicialmente, foi exercer a profissão em Sabinopólis e Governador Valadares, localidades em que distribuiu a mancheias os benefícios de uma medicina, clínica e cirúrgica, bem estratificada, e que tinha como escopo o paciente, o homem sofrido de uma área então empobrecida e em desenvolvimento. Foi então que soube identificar e descrever o primeiro diagnosticado de Calazar em nosso Estado.
Em ambas as localidades, fundou hospitais, que ainda atendem suas populações.
Apesar de seu êxito nessas duas cidades, seu sonho era voltar ao magistério. Ao deixá-las, foi, antes, aos Estados Unidos, onde fez estágios em sua especialidade médica.
Transferindo-se para Belo Horizonte, exerceu com brilho sua atividade em consultório e hospitais, atingindo a cifra de mais de 3000 partos.
Por outro lado, iniciou a carreira na Faculdade de Medicina da UFMG, onde realizou seis concursos, em todos se classificando em primeiro lugar e com médias superiores a 9, até atingir a posição de Professor Titular da cadeira de Ginecologia. Foi, outrossim, Coordenador do Curso de Mestrado em Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFMG e Professor adjunto, convidado, da Universidade de Brasília, onde permaneceu, com muito brilho, durante um ano.
Em suas atividades, tinha em mente que “servir é tarefa das grandes almas”, conforme definição da Gabriela Mistral, bem como “somente uma vida vivida para os outros vale a pena ser vivida” (Einstein).
Era filiado a mais de 10 entidades médicas, inclusive à Academia Mineira de Medicina, como Titular da cadeira n°18, tendo como Patrono Otto Cirne e, como antecessor, Clóvis Salgado.
Fez dezenas de conferências sobre a sua especialidade. Artigos em publicações médicas, participações em Congressos e Reuniões Científicas, ministrou cursos e publicou vários livros, de medicina e de cultura geral.
No perfil que traçamos de Ruy Pimenta Filho, na condição de seu paraninfo, por ocasião de sua posse na Academia Mineira de Medicina, identificamos em sua personalidade três características principais: vontade, paixão e curiosidade.
Vontade, que o levou a uma vida plena de sucessos, na clínica e no magistério.
Paixão, na constituição de numerosa família, na dedicação para com seus filhos e irmãos, para com sua esposa. Pelo Rotary Internacional, entidade em que foi introdutor, no Brasil, do Programa de Intercâmbio de Estudantes, que até agora já intercambiou mais de 40.000 jovens em todo mundo. Pela medicina integral e bem executada. Pelo bom trato da língua portuguesa. Pelo estudo de nossa história e de nosso folclore. Pelo magistério, que exerceu, quando jovem, em colégios e, já graduado, em Faculdades de Medicina.
Curiosidade, que o motivava a preocupar-se com os mais variados matizes da atividade humana e o faz produzir importantes contribuições em pesquisa médica.
O livro que está sendo lançado nesta noite – “A História de Peçanha” – representa mais uma minuciosa contribuição ao estudo da história de nosso Estado e, em particular da cidade de Peçanha e de outras vizinhas.
É dividido em quatro etapas: procura da Serra das Esmeraldas, tida como localizada na região de Peçanha; fundação da cidade e visita à mesma por Saint-Hilaire; desenvolvimento e progressos lentos, com elevação da paróquia a vila e instalação da mesma e, finalmente, da segunda década do século XX em diante, com criação de novos municípios localizados na Mata da Peçanha.
Tais descrições começam com judiciosos comentários sobre a descoberta do Brasil. Continuam com a história de expedições à procura de riquezas na Serra das Esmeraldas, das controvérsias sobre a fundação de Peçanha, dos fatos que lhe precipitaram a fundação, relato sobre a Mata da Peçanha e as lutas da população com os índios Botucudos e as doenças locais, estudos de famílias que residiam em Peçanha, o desenvolvimento da cidade e as transformações que a urbe sofreu por ocasião da proclamação da República. Finaliza, com relação dos administradores municipais da cidade.
Eu gosto de ver um homem orgulhar-se de sua cidade natal e Ruy confessa o seu amor a Peçanha, nessa obra hoje lançada.
Mas, também, gosto ainda mais de ver que uma localidade se orgulha de seu filho – e estou certo de que isso acontece entre os originários de Peçanha e Ruy.
O livro representa longo trabalho, terminado às vésperas do falecimento de seu autor. “Que o Senhor o abençoe e guarde”! Que o Senhor lhe mostre sua face e lhe conceda uma graça! Que o Senhor lhe volte seu rosto e lhe dê a paz!
Muito Obrigado!