João Nogueira Penido
É o patrono da Cadeira 100.
João Nogueira Penido nasceu em 30 de maio de 1822, na Vila de São José de Paraopeba, na Comarca de Bonfim, na Província de Minas Gerais, hoje um distrito no município de Brumadinho, em Minas Gerais.
Vocacionado para a Medicina desde a infância foi aos 19 anos estudar no Colégio de Congonhas do Campo, dos padres Lazaristas. Neste educandário exercia a atividade de enfermagem, acrescida do ensino de latim e francês para compensar o benefício que recebia dos sacerdotes.
De 1841 a 1845, fez os preparatórios exigidos para o acesso à faculdade de Medicina, os quais consistiam nas seguintes matérias: Latim, Francês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Filosofia Racional, Moral, História e Geografia.
Aos 23 anos, no final de 1845 viajou para a Corte, no Rio de Janeiro, onde prestou os exames, obteve excelentes notas e matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Fez o curso médico com dificuldades para se manter, recebendo uma mesada de 30$000 (trinta mil reis) do seu irmão mais velho, como empréstimo, e dando aulas de latim, francês em colégios. Devido a uma crise financeira, o irmão não pode mais continuar a dar-lhe a mesada.
No fim do 3º ano de estudo, volta a Minas Gerais, convidado por dois colegas, para passar alguns dias na fazenda do pai deles. Este reconheceu o valor e o caráter do amigo dos seus filhos, propôs-lhe fornecer a mesada que o irmão não podia dar, até o término do curso. João aceitou, com a condição de pagar tudo, inclusive os juros, depois de formado, o que cumpriu na íntegra.
Em 1850, no 5º ano de medicina, na primeira epidemia de febre amarela, entrou para o Lazareto, sendo encarregado pelos seus mestres de praticar as necropsias dos “amarelentos”, ocasião em que prepara o material de exame anátomo-patológico da febre amarela. O relatório apresentado mereceu elogios do governo e condecoração, que foi recusada.
Em 09 de dezembro de 1851, defende tese constituída de três partes: uma dissertação sobre “a febre perniciosa álgida e seu tratamento especial”; outra sobre “o aborto provocado”; e uma proposição sobre “Alienação mental considerada do ponto de vista médico-legal”.
Na solenidade de formatura rejeitou o beija-mão imperial. O Diretor da Faculdade observou a recusa, advertiu-lhe, e o doutorando fez apenas uma reverência respeitosa. A Congregação quis puni-lo com a não expedição do diploma, mas a magnanimidade do Imperador Pedro II impediu que se consumasse a punição.
Decidido a voltar para Minas Gerais, dirigiu-se a Barbacena, passou por Simão Pereira, antiga São Pedro de Alcântara, depois Jaguari, hoje Camanducaia. Finalmente se fixou em Juiz de Fora, a partir de 1853, onde clinicou por 44 anos, atendendo à clientela de todos os cantos da Província de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Distinguiu-se por alguns atos incomuns: leu integralmente os 40 volumes da “Enciclopédia do Mérito Prático”, sabia de cor páginas da “Clínica Cirúrgica de Paget”, memorizou quase todo o Formulário Magistral de Bouchardat e assinou desde a sua formatura o “Boletim de terapêutica”.
Tinha conhecimentos de terapêutica indígena e empregava terapias médicas não convencionais e até inéditas. Praticou arriscadas e delicadas cirurgias, tais como ligadura em um aneurisma falso da poplítea, a operação de Chopart, de hérnia estrangulada, de ablação das mamas, de castrações, de trepanações e de cataratas.
Era audacioso, abnegado e humanitário no exercício da profissão.
Chamado para dar atendimento médico a um escravo, maltrapilho e deitado num assoalho, indignado, recusou atendê-lo naquelas condições. Exigiu que trouxessem colchão, travesseiro, cobertas e demais confortos indispensáveis ao restabelecimento do paciente.
Juntamente com colegas fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, da qual foi eleito primeiro Presidente. Mandou editar boletins das sessões, criou medalhas e prêmios para conferir aos merecedores.
Elegeu-se vereador a Câmara Municipal, nos períodos de 1858 a 1864 e 1867 a 1884. Foi nomeado 2º substituto do Juiz Municipal, por duas vezes, tendo presidido algumas sessões do Juri.
Durante a Guerra do Paraguai, apesar de republicano, prestou relevantes serviços à Nação de tal forma, que o Governo Imperial em 1869 o agraciou com o Hábito de Cristo, honra que também declinou.
Nomeado pelo Governo Imperial, vice-Presidente na Província de Minas Gerais, recusou pelo mesmo motivo, o de convicção.
Faleceu em 1901
Texto: Christobaldo Motta de Almeida