DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO ACADÊMICO PAULO ADELMO LODI AO RECEBER ELOY HENRIQUE DUTRA CÂMARA COMO ACADÉMICO TITULAR EM 28/03/2000.

RICA PERSONALIDADE. DINÁMICO LABOR.

É com elevada emoção que assumo, mais uma vez, a tribuna do nosso egrégio cenáculo. Sobreleva esta sensibilidade o intenso júbilo e a singular ternura que invadem o meu coração, pois neste feliz ensejo paraninfo um ilustre colega e um amigo de quase 6 (seis ) décadas, que ingressa como Membro Titular na Casa de Cícero Ferreira. Os pórticos deste silogeu abrem-se, solenemente, para o caro colega, rica personalidade em atributos morais e intelectuais. Os vários confrades que são seus amigos rejubilam-se com a admissão e futuro convívio. A propósito, sentenciava Lamartine, o notável poeta francês – “A amizade é um aroma que perfuma a vida, uma suavidade que a encanta e uma lembrança que a embeleza”.
A semente de elevada estirpe germinou em terreno fértil e acolhedor de alta linhagem, gerando 5 (cinco ) pequeninos seres que evoluíram, e , normalmente, se desenvolveram. Infelizmente, o pater-família, após a origem dos belos frutos, enfraqueceu-se e foi ceifado por insidioso mal. A alma-mater, rica um pura seiva vivificante, com sua grande copa projetando sombra benfazeja, criou, com amor e carinho, os pequenos entes que necessitavam de sua defesa contra as intempéries da vida. O mais novo desses pequeninos seres, de outrora, é o Dr, Eloy Henrique Dutra Câmara que, hoje, recebemos neste augusto sodalício.
A Academia Mineira de medicina é a matriz do Pensamento mineiro e uma das fontes mais fecundas da medicina nacional. É constituída de médicos dos mais elevado estofo moral e intelectual, sempre preocupados em enobrecer o nosso mister, com pesquisas e estudos da mais alta relevância. Os temas culturais de humanismo, memória e ética médicas, também, tem sido preocupações constantes de estudo por parte dos Acadêmicos. A atual Diretoria comandada pelo Acadêmico Fernando Araújo tem tido uma atuação brilhante, com múltiplas messes conquistadas. Em 1998, por bela inspiração do presidente, foi acertada uma visita à Academia Nacional de Medicina da França. Assim, em 23 de abril de 1998, uma delegação de acadêmicos mineiros ,foi oficial e solenemente recepcionada pelo silogeu francês de medicina, fato inédito na Brasil. Durante o importante evento discursaram o Professor Claude Laroche, Presidente da Academia Francesa, saudando os acadêmicos mineiros, e o Presidente Fernando Araújo que ressaltou o relacionamento cultural e científico entre a França e o nosso País.
Durante o ano de 1999 foram realizados um Curso e um Congresso de Doenças de Chagas, com participação das maiores autoridades nacionais sobre o importante tema, e grande freqüência de acadêmicos, médicos e biólogos.
Eloy ama o seu berço natal, a encantadora Barbacena, cidade das flores, principalmente das belas rosas, muito apreciadas aqui e no exterior, e importante núcleo da colônia italiana um Minas Gerais. A excelência da atividade humanística da cidade, representada, mormente, pelo antigo Ginásio Mineiro e Escola Preparatória da Aeronáutica, é reconhecida há décadas. A vida cultural é também rica – Museu Municipal com cerca de 1000 ( mil ) peças mostrando 250 (duzentos e cinqüenta ) anos da vida social, política e econômica da região; a Academia Barbacenense de letras; o Museu Bernanos, com acervo deste brilhante escritor Francês e o Museu Marcier, organizado com material deste pintor romeno, ambos na cidade, voluntariamente, exilados na época da II Grande Guerra Mundial. O estilo arquitetônico barroco do século XVIII, com realce para as Igrejas Nossa Senhora da Assunção e Nossa Senhora da Piedade, embeleza a cidade. Essas expressões do espirito exerceram uma notável influência sobre a alta sensibilidade de Eloy, exornando a sua imaginação e pensamento.
As primeiras letras no Colégio Ede e o curso fundamental no Ginásio Mineiro proporcionaram-lhe um bom conhecimento das humanidades.
O curso pré-médico e o curso na então Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais com excelente aprendizado em todas as cadeiras. O estudo pertinaz encontrou campo fértil em sua nobre e viva inteligência, mormente, para a expansão dos conhecimentos e aplicação no campo prático, esse realizado com Interno Residente do Hospital São José e do antigo Hospital São Vicente de Paulo, da Faculdade, e Assistente Voluntário do antigo Instituto de Radium, onde pode vivênciar casos de Urológica. A escola era pobre, materialmente, mas rica ética, cultural e cientificamente. A maioria dos professores se desdobrava para ensinar, e os alunos desejosos de aprender a ciência médica.
No curso do CPOR – Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva, onde também fomos colegas, feito simultaneamente com o curso médico, os instrutores eram oficiais que pertenceram à FEB – Força Expedicionária Brasileira. Estavam estuantes de terem lutado e derrotado o guante dos regimes fascistas e nazista.
Uma excursão científico- cultural aos Estados do Sul Do Brasil e Países do Prata, quando éramos doutorandos, sob a chefia do ilustre Professor Octávio Magalhães, aumentou os nossos interesses para as ciências biológicas e questões sociais, e abriu novos horizontes e perspectivas para a carreira que, em breve iríamos iniciar. A viagem foi muito agradável, plena de casos pitorescos e jocosos, próprios do temperamento alegre da mocidade.
O ânimo para o estudo da ciência médica ganhou amplitude com um estágio de 3 (três) anos nos Estados Unidos, na Rowley Clinic, cidade de Huntington, Estado West Virginia, onde aperfeiçoou o seu saber tomando contato com a patologia norte-americana e penetrando nos meandros da alta cirurgia. A personalidade do cirurgião foi, assim sendo plasmada pela fecunda capacidade de trabalho, pendor para a cirurgia e permanente determinação para o estudo. A propósito, diria o notável homem público Milton Campos, olhando para a sua morada espiritual – “Este é o seu pomar. Daqui você retira o fruto que quiser com a vantagem de frui-lo e não o consumir. Coloca-o de novo na árvore, depois de o haver saboreado”.
Não satisfeito com a excelente bagagem científica que já acumulara, quis ampliar seus conhecimentos médicos clinicando em uma comunidade do interior. Assim mourejou durante 2 (dois) anos nas cidades de Matutina e São Gotardo, no Oeste Mineiro. Lá conheceu a sua digna esposa, D. Dora Bueno Câmara, descendente de tradicionais troncos familiares da região. Atendendo a uma clínica polivalente, abrangendo os mais variados casos clínicos e cirúrgicos, somou mais experiência, enriqueceu o seu pensamento médico e adquiriu então uma sólida e eclética formação profissional. A propósito, uma citação de Locke, médico e filósofo inglês – “O conhecimento e as idéias provêm das experiências”.
Eloy trás no sangue a tradição da ciência e a arte de Hipócrates. Foram médicos um bisavô, um avô e um pai. Bela transmissão familiar que se soma a enelutável vocação de fazer o bem ao próximo. O bisavô Dr. Maurício Murgel, médico austríaco, clinicou em algumas cidades da Zona da Mata Mineira. O avô Dr. Joaquim Dutra foi decano dos psiquiatras mineiros, tendo dirigido, com competência, por 30 (trinta) anos o Hospital de Assistência aos Alienados de Barbacena. Sua filha, D. Margarida, mãe de Eloy, casou-se com o Dr. Eloy Ângelo Câmara, que exerceu a Clínica Médica, na cidade, tendo falecido jovem, como referimos no início. D. Margarida, senhora culta, dotada das mais caras virtudes da família mineira, soube com firmeza de atitudes e tenacidade moral criar o educar muito bem os 5 (cinco) filhos: Ângelo, veterinário; José Eugênio, dentista; Luiz Álvaro e Mário Celso, engenheiros e Eloy, médico. Dorinha e Eloy tem 5 (cinco) filhos, Kátia, dermatologista; Elizabeth, psicológa; Henrique, cirurgião geral; Cristiane, nutricionista e Eloy, ginecologista.
Em 1957 o desejo de clinicar em um centro maior e uma grande nostalgia, levaram-no, novamente, ao ambiente do Dr. Joaquim Dutra, Dr. Eloy Ângelo e D. Margarida, na querida Barbacena. Nessa tem prestado o seu concurso a algumas instituições, como médico do INSS, médico do Hospital de Alienados, fundador com 12 (doze) colegas do Hospital Ibiapaba, onde exerce a sua atividade cirúrgica, fundador da Faculdade de Medicina, sendo hoje Professor titular da Clínica de Minas Gerais. Cidadão de talento e ação foi Presidente de Regional da Associação Médica de Minas Gerais e é Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. O seu prestígio profissional, social e impecável conduta ética conduziram-no a láureas de alta significação – “Cirurgião do Ano”, conferido pelo Congresso da Cirurgia 98, promovido pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e “Cidadão Benemérito de Barbacena” conferido pela Câmara de Vereadores>
O seu talento didático ficou bem demonstrado quando neste cenáculo apresentou para admissão como Membro Titular, a tese “Tireoidectomia. Uma operação a ser reabilitada”.O patrono da cadeira que está sendo preenchida é o Dr. Levy Coelho da Rocha que para aqui veio no início da construção da cidade. Trabalhou na Santa Casa e no Instituto de Radium com o Professor Eduardo Borges da Costa. Foi diretor do Hospital do Isolamento, de 1927 até a sua morte em 1942. O 1º ocupante foi seu filho Dr. Levy Coelho da Rocha Filho, Ao ensejo de seu falecimento, pronunciei no velório, entre outras, as seguintes palavras – “O seu exemplo de cidadão prestante e médico humanitário foi uma lição de vida para aqueles que tiveram o privilégio de conviver com você. Como docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, você palmilhou a senda dos que desejam professar com acerto a arte e ciência cirúrgicas, isto é, primeiramente o ensino da morfologia humana, e depois o ensino da prática hospitalar”. O segundo ocupante da cadeira foi o Professor Ressalva Salum, Titular da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro. Profundo conhecedor do Câncer Ginecológico, estagiou na Faculdade de Medicina de Paris – Hospital Broca, para estudar esta afecção. Dotado de grande entusiasmo, tinha muito a oferecer à Academia, mas infelizmente faleceu 3 (três) anos após a sua admissão.
Voltemos ao Dr. Eloy. A música erudita de Beethovwn, Mozart e as valsas de Strauss são cultivadas pela sua alta espiritualidade. Já dizia Shakespeare – “A Música é o alimento da alma”. A sua intelectualidade deleita-se também com a literatura de Conan Doyle, Agata Christie, Edward Walace e biografias de grandes personalidades como De Gaule, Churchil e Kennedy.
Serenidade, placidez e prudência são características da alma humana que contribuem, eficazmente, para o indivíduo enfrentar os desafios nas vicissitudes da vida. Estes dotes Eloy possue a mancheiras. A soma destes atributos ajudam ao cirurgião arrostar e dominar os percalços do nosso mister com que se defronta a cada dia. Possui rica afabilidade no trato com o próximo, o que não impede uma ponderada reserva, que é sinal de sua fina educação. A sua prosa viva e atraente é, nas horas adequadas, plena de fina ironia. Poderá dizer o Apóstolo São Paulo na II Epístola a Timóteo – “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Muito Obrigado.
Acad. Paulo Adelmo Lodi