Andy Petroianu
Ocupa a Cadeira 23, de 20/04/2004.
Nasci na cidade de Braila, Romênia, em 1952 onde fiz o curso primário, Por razões políticas, emigrei junto com meus pais inicialmente para Áustria, depois Itália e finalmente fomos aceitos no Brasil. Por causa do clima, a opção de meus pais foi por Belo Horizonte, aonde cheguei em 1962.
Passamos pelas dificuldades habituais do imigrante sem posses e que desconhece a língua e o país. Meus pais conheceram a Sra Virgínia, professora que tinha uma escola preparatória para Admissão ao Curso Secundário e que se ofereceu para ensinar-me o idioma português com o compromisso de meus pais efetuarem o pagamento quando tivessem condição financeira, o que foi feito dois anos depois. No fim daquele ano, submeti-me ao concurso para ingressar no Colégio Anchieta e, por ter sido aprovado em primeiro lugar, ganhei uma bolsa de estudos integral. No ano seguinte, fiz concurso e ingressei no Colégio Municipal, na época o melhor instituto de ensino de Belo Horizonte, onde terminei o curso ginasial e os dois primeiros anos do curso científico. Cursei o terceiro ano no Colégio Universitário, que tinha o melhor modelo de ensino nacional. Paralelamente à parte educacional, trabalhei desde o início de nossa chegada em Belo Horizonte como camelô, ascensorista, chaveiro e comerciário.
Em 1972. ingressei na Faculdade de Medicina da UFMG e fiz todo o curso em quatro anos e meio, tendo sido a minha formatura aprovada pela Reitoria em caráter excepcional frente ao ineditismo da situação no cenário nacional.
Junto com o curso de Medicina, cursei também os quatro anos do curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG no período noturno.
Enquanto estudante, fui professor de química nos cursos Pitágoras e pH7, além dos colégios Pitágoras e Santo Agostinho.
Como estudante, acompanhei os serviços de Cardiologia, de Cirurgia Cardiovascular e o CTI do Hospital Felício Rocho, além do Serviço de Trauma do Hospital de Pronto Socorro João XXIII, onde trabalhei como voluntário de Cirurgia e de Anestesia até 2005, e o de Obstetrícia do Hospital Odete Valadares, onde também fui professor de Biologia do Curso de Auxiliar de Enfermagem.
No fim do quarto ano, prestei concurso para Residência de Clínica Médica no Hospital da Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais e passei em terceiro lugar. O Prof. Dr. Roberto Dias, coordenador da Residência de Clínica Médica, aceitou que eu acompanhasse seu serviço até efetivar a minha formatura seis meses mais tarde, quando me tornaria residente.
Entretanto, durante esse período, decidi tornar-me cirurgião e prestei concurso para Cirurgia Geral no Hospital das Clínicas da UFMG, onde fui aprovado em primeiro lugar geral e iniciei a residência médica em julho de 1976. Em 1978, verifiquei que ainda não estava preparado suficientemente para considerar-me cirurgião e solicitei à Comissão de Residência do Hospital das Clínicas que fosse criado mais um ano de residência, para eu cursar, mesmo eu já sendo aluno de pós-graduação e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Dessa forma, o Hospital das Clínicas foi o primeiro hospital do Brasil a oferecer a residência em Cirurgia Geral durante três anos. Outros residentes seguiram na vaga aberta por mim.
Em dezembro de 1976, ingressei, por concurso, no Programa de Pós-graduação em Cirurgia, na qualidade de doutorando. Mesmo assim, preferi fazer duas teses (Mestrado e Doutorado), ambas sobre aspectos fisiológicos e cirúrgicos da motilidade do fundo gástrico, tendo sido orientado pelo Prof. Dr. Alcino Lázaro da Silva, que também era meu preceptor na residência e Chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital das Clínicas. Mesmo já sendo Mestre em Medicina e com artigos científicos publicados, não me sentia com conhecimento suficiente para considerar-me pesquisador. Por esse motivo, ingressei no Programa de Pós-graduação em Fisiologia e Farmacologia onde fiz o Mestrado, sobre motilidade do músculo liso, orientado pelo Prof. Dr. Júlio Weinberg e o Doutorado, sobre mutações genéticas do câncer espinocelular, orientado pelo Prof. Dr. Luiz Armando Cunha de Marco. Meus trabalhos de fisiologia motora gástrica descreveram o padrão motor do fundo gástrico, que era até aquela época desconhecido.
Em 1985, fui para os Estados Unidos fazer o Pós-doutorado, como Fellow do Departamento de Cirurgia da State University de Nova York, sob a chefia do Prof. Dr. Bernard M. Jaffe. Meu trabalho, incluindo aulas para o Curso de Graduação em Medicina em laboratório de pesquisa e resultando em 11 publicações científicas fez com que eu fosse inserido naquele Departamento como Professor Assistente. Nessa época fui também Fellow de Cirurgia Geral e de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Memorial Sloan Kettering Cancer Center de Nova York sob as chefias do Prof. Dr. Murray F. Brennan e do Prof. Dr. Elliot W. Strong.
Em 1990, fiz o Concurso de Docência Livre em Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, com a tese modelos experimentais de reconstrução traqueal. Esse trabalho foi um dos pioneiros em transplante traqueal, tendo sido muito referenciado.
A partir de 1979, passei a estudar o baço, tendo criado inclusive uma operação denominada esplenectomia subtotal, na qual é preservado o polo superior esplênico, irrigado apenas pelos vasos esplenogástricos, também descritos anatomicamente por mim. Em 1992, fiz uma segunda Docência Livre na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, tendo como tema de tese, estudos experimentais da esplenectomia subtotal. Nessa época, já fazia rotineiramente essa operação para tratar hipertensão porta, trauma e outras doenças hematológicas, vasculares, metabólicas e infecciosas. Meus estudos sobre a anatomia, fisiologia e cirurgia esplênicas, publicados em mais de uma centena de artigos científicos, tiveram uma grande aceitação internacional e foram base de muitos convites para palestras, operações esplênicas em diversas regiões do Brasil e no exterior. Publiquei dois livros sobre o baço, um no Brasil e outro na Inglaterra. Sou também o autor do capítulo de baço do maior livro de Anatomia do mundo, o Gray’s Anatomy em sua última edição.
Em 1999, obtive, pela primeira vez no mundo, fertilização bem sucedida em coelhos submetidos a transplante homógeno de ovário. Esse trabalho está nas referências do artigo sobre o primeiro nascimento humano após transplante de ovário, realizado na Bélgica dois anos depois.
Em 2001, descobri um novo sinal radiográfico de distensão cecal e acúmulo fecal em apendicite aguda. Esse sinal, presente em 97 % das apendicites agudas e que desaparece logo após a apendicectomia, tem sido citado em artigos e livros especializados.
Tenho duas patentes, uma relacionada a um desodorante para axilas e pés com efeito duradouro por até um mês e outra para conservação de tecidos e órgãos para transplante em água de coco modificada.
Como pesquisador, fui bolsista de doutorado no Programa de Pós-graduação em Cirurgia da |UFMG, de 1978 a 1981, quando me tornei Bolsista de Produtividade em Pesquisa IB do CNPq. Desde então sou Bolsista IA e IB ininterrupto até 2019.
Atualmente sou também Bolsista Pesquisador Mineiro da FAPEMIG, bolsa essa que também tive em 2010.
Em 1991, fui aprovado no concurso para Professor Titular com anota 9,7 e, em 1994, fui aprovado em um segundo concurso com a nota 10 por unanimidade e tornei-me Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, onde já dava aulas desde 1976 e ingressei, como Auxiliar de Ensino em 1978, passando a Professor Assistente em 1981 e Professor Adjunto em 1985.
Desde 1976, sou preceptor de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas da UFMG, onde sou inserido como cirurgião geral, tendo feito parte da equipe de Transplante de Fígado de1995 a 2015. Desde 1994, sou plantonista de Cirurgia do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas na equipe de sábado à noite.
Ingressei na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte em 1990, onde sou Assistente Efetivo de Cirurgia e Preceptor de Cirurgia Geral para internos e residentes de Medicina.
Além de minhas seis teses, orientei 50 teses de Mestrado e Doutorado. Estou na autoria de cerca de 500 artigos científicos, 25 livros, mais de 160 capítulos de livros e mais de 500 palestras e conferências em eventos medicocientíficos, bem como em mais de 2.500 temas livres e vídeos livres no Brasil e em diversos outros países. Fui agraciado com mais de 100 prêmios nacionais e internacionais por atividades médicas e científicas.
Fui membro e coordenador do Comitê Assessor de Medicina do CNPq em cinco mandatos, desde 1991. Fui membro do Comitê Assessor da Saúde da FAPEMIG em dois mandatos sucessivos, 2008 a 2012. Sou membro do Comitê Consultor da Medicina III e também da Medicina I da CAPES desde 2008, em três mandatos consecutivos. Sou membro consultor de várias Fundações de Amparo à Pesquisa de diversos Estados, destacando a do Rio de Janeiro, onde trabalho desde 2006.
Tenho a honra de ter sido eleito para ocupar a cadeira 23 da Academia Mineira de Medicina em 2003. Fui agraciado com a Cidadania Honorária de Belo Horizonte pela Câmara Municipal de Vereadores em 2004. Fui diplomado Membro Emérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões em 2017.
Tenho por lema de vida, aut non incipit aut finis perfectus.
Texto: Andy Petroianu