João Penido Burnier
É o patrono da Cadeira 77.
Nasceu João Penido Burnier em Alagoinhas, na Província da Bahia, em 17 de outubro de 1881, tendo por pai Miguel Noel Nascentes Burnier, engenheiro que estava executando uma obra na cidade e que havia levado para lá a esposa grávida.
A família encaminha-se para o Rio de Janeiro com o menino ainda lactente e aí permanece até ele completar doze anos e meio de idade, quando seu pai falece. Mãe e filho transferem-se para Juiz de Fora, em Minas Gerais, ficando sob os cuidados do avô materno, médico e político.
Faz seus estudos secundários no colégio Andrés, em Juiz de Fora, depois no Ginásio Mineiro em Barbacena e, finalmente, no Externato Aquino e no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, onde prestou exames preparatórios.
Em 1898 matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi interno da Clínica Oftalmológica do Professor Joaquim Xavier Pereira da Cunha, interno-residente do Hospital da Marinha de 1901 a 1903 e auxiliar-acadêmico da Assistência Pública Municipal.
Defendendo a tese “Simpactectomia no tratamento do Glaucoma”, doutorou-se em 1903.
Foi nomeado Inspetor Sanitário, após concurso presidido por Oswaldo Cruz, em 1904.
Casando-se em 1906, enviuvou seis meses após; em seguida, fez viagem de Estudos à Europa, onde freqüentou o Curso de Oftalmologia do Professor Félix de Lapersonne, em Paris, durante um ano.
De volta ao Brasil em 1908, exerceu algumas atividades relacionadas à especialidade, na Comissão de Profilaxia e Tratamento do Tracoma em São Paulo, na Policlínica do Botafogo, no Rio de Janeiro, no Hospital da Misericórdia José Carlos Rodrigues e em seu consultório.
No ano de 1910, transferiu-se para Campinas, onde trabalhou na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, atendendo aos funcionários como médicos clínicos.
Realizou nova viagem de estudos à Europa, em 1913, e lá freqüentou a Clínica do Professor Victor Morax, no Hospital Laboissière em Paris.
Regressando em 1914, instala consultório de oftalmologia, transformando-o a seguir em pequena clínica, com quatro leitos para operados.
Em 1920 funda o Instituto Oftalmológico de Campinas, com consultório e hospital. Foi ampliado as instalações à medida que a demanda exigia, transformando-o em 1923 no Instituto Penido Burnier.
Dedicou-se ao estudo do tracoma e da cisticercose ocular com grande interesse, comprovado, nos Arquivos Clínicos do Instituto, através da casuística, que é considerada a maior do mundo. Em 1932 edita a revista “Arquivos do Instituto Penido Burnier para admitir pessoas carentes e médicos residentes.
Deixou uma considerável bagagem científica, destacando-se entre seus trabalhos aqueles sobre conjuntivite primaveril, cisticercose ocular, aracnodactilia, rubéola materna, tratamento do tracoma pela medicação sulfamídica, catarata congênita, síndrome de Adle e outros mais.
Fez parte de numerosas sociedades científicas nacionais e estrangeiras, tendo o seu nome inscrito no “Livro do Mérito”.
Em 1923 e 1925 voltou a visitar as principais clínicas oftalmológicas da Europa, em Hamburgo, Berlim, Viena, Roma, Estrasburgo, Bordeaux, Paris e Bruxelas.
Foi membro de várias instituições e sociedades oftalmológicas dentro e fora do país, do Conselho Consultivo do Governo de São Paulo em 1934, cidadão Paulistano e Campineiro, ex-vereador de Campinas em 1936; recebeu várias medalhas, entre as quais a Cultura Imperatriz Leopoldina, a Ordem Nacional do Mérito em 1957, Ordem do Mérito Médico em 1959, do Marechal Rondon e a “Santé Publique de France”.
Faleceu em 8 de janeiro de 1971 deixando uma das mais belas e férteis carreiras da oftalmologia brasileira.
Texto: Christobaldo Motta de Almeida