Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas
É o patrono da Cadeira 10.
Nasceu Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas em 09 de Julho de 1879, na fazenda do Bom Retiro, no município de Oliveira, na Província de Minas Gerais. Filho de José Justiniano das Chagas e de Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas.
Ficou órfão de pai aos 5 anos, quando foi mandado para Itu, em São Paulo, a fim de iniciar os estudos com matrícula gratuita.
Regressa meses após, devido a surto epidêmico na cidade, e vai estudar em São João del Rei, no Colégio São Francisco de Assis, onde realiza estudos de humanidades, concluídos em Ouro Preto. Atraído pelo clima de estudos avançados (faculdades) desta cidade, matricula-se na Escola de Minas.
Movido por profundos sentimentos de humanitarismo, deixa os estudos de engenharia, muda-se para o Rio de Janeiro e matricula-se na Faculdade de Medicina e Farmácia, vindo a concluir o Curso Médico, em 1903, com a tese “Estudos hematológicos no impaludismo”.
Foi Presidente do Grêmio dos internos dos Hospitais da Diretoria Geral de Saúde Pública e orador da sua turma de formados.
Como acadêmico, foi discípulo voluntário de Oswaldo Cruz, no Instituto Soroterápico em Manguinhos, em 1902, e seu assistente em 1906, vindo a tornar-se chefe do serviço em 1910.
Em 1904, foi médico da Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 1905 Chefe da Comissão de Estudos sobre a profilaxia da malária em Minas Gerais. Ainda nesse ano, dirigiu uma campanha para erradicar a malária em Santos.
Oswaldo Cruz o designa, em 1907, para chefiar uma campanha de erradicação do impaludismo, no Vale do Rio das Velhas, em Minas Gerais. Instalou-se na cidade de Lassance, num simples vagão ferroviário, no qual residia e mantinha ambulatório e laboratório.
De volta ao Rio de Janeiro, descreve, em 17 de dezembro de 1908, a presença de Trypanosoma Cruzi, em homenagem ao seu mestre.
Oswaldo Cruz, em 22 de abril de 1909, lê, na Academia Nacional de Medicina, o trabalho de Chagas intitulado “Nova tripanosomíase humana”.
Carlos Chagas demonstra a infecção humana examinando a menor Berenice, sem manifestações clínicas, mas portadora do trypanosoma. Examina outros indivíduos habitantes de cafuas onde existiam “barbeiros” e, em todos, observa a presença do protozoário que descobrira. Estuda com rigorismo científico a nova doença.
Esta descoberta é fato singular na história da medicina, onde um mesmo pesquisador começa identificando o parasita, seu hospedeiro intermediário (o barbeiro), um inseto, e reconhece depois a existência de uma entidade nosológica. Descreve o quadro clínico por inteiro, estuda a anatomia patológica, a patogenia e dá o significado de uma nova moléstia, como grave problema de saúde pública no país, indicando a sua profilaxia.
Em 1910, a Academia Nacional de Medicina cria uma vaga especial para Carlos Chagas. Escrevendo este novo capítulo da patologia humana, em 22 de junho de 1912, recebe o prêmio Schaudinn, em Hamburgo, mais o prêmio Kümmel numa verdadeira consagração universal.
Com a morte prematura de Oswaldo Cruz, é nomeado, em 14 de fevereiro de 1917, Diretor do Instituto de Manguinhos; este, pioneiro da medicina experimental no Brasil.
Em 1919, é nomeado Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública. Fundada a escola de enfermagem “Ana Nery”, instala hospitais e cria o Curso de Higiene e Saúde Pública, pioneiro na América do Sul.
Em 1925, assume, como primeiro titular, a Cadeira de Medicina Tropical da faculdade onde se diplomou e, em 1932, torna-se o paraninfo dos formandos.
Durante dois anos percorreu a Amazônia, em luta contra a malária e outras moléstias.
Representou o Brasil em vários congressos médicos internacionais, sendo membro permanente do Comitê de Higiene da Liga das Nações. Doutor Honoris Causa pelas Universidades Harvard, Paris Bruxelas e Lima, Professor Honorário das Universidades de São Paulo, Minas Gerais e Buenos Aires. Condecorado pelos governos da Itália, Bélgica, Espanha e Romênia, recebeu também numerosas outras distinções.
Publicou mais de uma centena de trabalhos, sendo 64 sobre a doença que leva o seu nome.
Seu legado científico, segundo Bacellar, “faz parte do Patrimônio da Humanidade e é a herança imortal do seu labor e do seu gênio”.
Biografia tão extensa, como a de Carlos Chagas, ocuparia necessariamente todo este volume da Academia Mineira de Medicina.
Faleceu em oito de novembro de 1934, no Rio de Janeiro.