Por: Guilherme Santiago Mendes
“Existem homens e deuses, e existem seres como Pitágoras”, era o que se dizia na Grécia Antiga, seis séculos aC.
Nascido na ilha de Samos, no mar Egeu, estabeleceu-se em Crotone, sul da Itália, região então conhecida como Magna Grécia. Dali, Pitágoras propagou sua incrível filosofia e tornou-se um dos homens mais interessantes e desconcertantes da história.
Inspirou uma revolucionária forma de raciocinar dedutivamente, usando a matemática como instrumento essencial para a construção da verdade. Para ele a aritmética e a geometria representavam ordem e harmonia, a essência de todas as coisas: “tudo são números”.
Mas engana-se quem só vê números em Pitágoras. A sua escola de matemáticos cultivava um profundo misticismo, inspirado nos cultos a Orfeu. Segundo Bertand Russell, um dos grandes matemáticos e filósofos do século XX, entender Pitágoras é imaginar Albert Einstein como um líder religioso: “a evolução é a lei da vida, o número é a lei do universo, a unidade é a lei de Deus.”
A “Sociedade Pitagórica” foi inovadora ao admitir mulheres nas mesmas condições que os homens e acreditava na transmigração das almas após a morte, não somente entre seres humanos. Consta que Pitágoras, tal como faria São Francisco de Assis quase dois milênios depois, pregava aos animais. Entre os pitagóricos havia regras rígidas e bizarras, como “não comer feijão, não apanhar o que caiu e não tocar em galos brancos”.
O misticismo intelectualizado de Pitágoras influenciou profundamente o pensamento humano e grandes filósofos que o sucederam, em momentos distintos da história, beberam da sua fonte: na antiguidade, Platão; no medievo, Tomás de Aquino; na revolução científica do século XVII, Descartes. Em todos eles há o propósito de mesclar raciocínio lógico com espiritualidade e buscar sabedoria suprarracional pela evolução intelectual. Um mundo eterno que se revela ao intelecto, não aos sentidos.