Por Guilherme Santiago Mendes
Proclamado como “o último profeta do Deus de Abraão”, Maomé recebeu do anjo Gabriel, no século VII, as palavras graníticas do Alcorão. A partir daí a onda do islamismo, como um tsunami, cobriu a península arábica, o oriente médio, o norte da África e a península Ibérica. O período compreendido entre os séculos VIII e XIII é conhecido como a “Era de Ouro” do islamismo.
Nessa fase, enquanto a Europa mergulhava na escuridão medieval, os sábios muçulmanos reuniam-se na “Casa da Sabedoria”, em Bagdá, para traduzir as grandes obras da Antiguidade Clássica para o idioma árabe. Com essa base sólida e criatividade própria, tornaram-se o epicentro cultural da humanidade, produzindo núcleos geradores de conhecimento em vários pontos do Império, como Cairo e Córdoba.
Na medicina, mais que assimilar os princípios de Hipócrates e Galeno, desenvolveram técnicas e conceitos genuínos. Incorporaram a cirurgia ao ensino médico séculos antes do mundo ocidental e criaram hospitais públicos, os “maristans”, onde médicos tratavam os doentes e lecionavam aos seus alunos. O médico tinha uma formação erudita, com profundo estudo de leis e filosofia, mas, diferente do ocidente, a formação prática era valorizada e o hospital era muito mais que um depósito de miseráveis cuidados por religiosos.
Sim: o nosso modelo de “hospital-escola”, com suas “corridas de leito”, foi concebido pelos muçulmanos um milênio antes de Napoleão Bonaparte implantá-lo por decreto no mundo ocidental. E dentre tantos muçulmanos brilhantes, um se destacou mais do que todos: o “Príncipe dos Médicos” Abu Ali ibn Sina, ou, para nós, Avicena. Vale a pena conhecê-lo melhor.