Por Guilherme Santiago Mendes
Quatrocentos anos antes de Cristo, Hipócrates postulou que as doenças seriam fruto de um desequilíbrio entre os humores do organismo, que eram quatro: o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra. Não por acaso, também são quatro os elementos da natureza e as estações do ano. Era uma medicina nascida da filosofia, baseada essencialmente na observação.
Seiscentos anos depois, Galeno sistematizou e aperfeiçoou a “teoria dos humores”, agregando-lhe algum conhecimento anatômico e um raciocínio lógico que a fortaleceu muito. Nos 1.600 anos seguintes a medicina ocidental existiu sem incorporar o elemento fundamental da ciência, que é a experimentação. Os tratamentos baseavam-se em sangrias, purgações e emplastros, que seriam capazes de reequilibrar os “humores.
A luzes do Renascimento deram fim ao obscurantismo medieval. Em sequência, Copérnico, Galileu, Kepler e Newton construíram um conhecimento que transformou a astronomia e a física. Descartes propôs o racionalismo matemático e ali, no século XVII, nascia a ciência tal como concebida hoje, fruto não só de observação, mas de experimentação com método.
O Iluminismo do século XVIII propagou o ideal científico e gerou notável progresso ao longo do século XIX na física, na química e na engenharia. A medicina, no entanto, resistiu à ciência e manteve-se fiel aos princípios hipocrático-galênicos. Por consequência, caiu em profundo descrédito. Resumindo esse sentimento, o médico, escritor e poeta Oliver W. Holmes, professor reformista de Harvard, afirmou que “se todo conhecimento médico fosse atirado ao fundo do oceano, seria ótimo para a humanidade e péssimo para os peixes”.
Mas uma revolução se anunciava…