Por Guilherme Santiago
Vem da cultura egípcia, onde medicina, magia e ocultismo se mesclavam, o primeiro registro de um “manual de anatomia”, cerca de 3.400 aC.
Na Grécia antiga atribui-se a Alcmeón de Crotona, discípulo de Pitágoras, a primeira dissecação humana, cinco séculos aC, mas isso era raro e Hipócrates dissecava apenas animais, assim como Galeno e Avicena.
Por séculos, a crença religiosa foi empecilho à dissecação humana. A manipulação de cadáveres só era permitida para embalsamento de alguns papas e santos, como Santa Clara.
Ainda na idade média, a partir do século XIII, passos importantes foram dados por algumas das mais antigas universidades do mundo: Frederico II, notório adversário dos papas, introduziu o ensino prático de anatomia na escola de Nápoles e a escola de Bolonha produziu o livro texto “Anathomia Mundini”, por Mondino dei Liuzzi.
Na Renascença, o interesse de artistas como Michelangelo e Leonardo pela anatomia humana gerou grande impulso e, em 1543, o médico belga Andreas Vesalius, professor da Universidade de Pádua, produziu uma das obras mais importantes da história da humanidade, ilustrada por desenhos e xilogravuras preciosos: o atlas de anatomia “De Humani Corporis Fabrica”. Dissecando e estudando cadáveres de criminosos executados, Vesalius erigiu o marco da anatomia moderna e refutou grande parte das teorias de Galeno, vigentes há mais de um milênio e inspiradas em modelos animais.
Foi também no famoso anfiteatro da Universidade de Pádua, já no século XVIII, que Giovanni Morgagni estabeleceu as bases da anatomia patológica e inspirou as sessões anatomoclínicas, essenciais para a construção do conhecimento sobre inúmeras doenças.
Vasculhando seus mortos, o ser humano abriu caminho para compreender a si mesmo. Restava dissecar a alma…