“OS 50 ANOS SEM LUCAS MACHADO NOS 70 ANOS DA FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS”
(Texto que integra o atlas sobre os setenta anos da Faculdade)
Acad. Geraldo Magela Gomes da Cruz
Eu tinha carta branca do presidente da Feluma – Wagner Eduardo Ferreira – para decisões dentro do atlas, mas nunca deixei de reportar a ele e sempre aguardei sua aprovação e retificações. Eu poderia ter convidado alguém da instituição para escrever sobre “OS 50
ANOS SEM LUCAS MACHADO NOS 70 ANOS DA FACULDADE”. Quero enumerar os motivos pelos quais a escolha recaiu em mim, em “eu mesmo”:
Conheci Lucas em 1959, quando entrei para a Faculdade após aprovação no vestibular.
No ano seguinte, Lucas me fez monitor de Anatomia, assinando minha carteira de trabalho no dia 10 de março de 1960; cursei medicina sem pagar mensalidade por obra do Lucas.
No dia 12 de dezembro de 1964, recebi, das mãos dele e do Prof. Tancredo Alves Furtado, o diploma de médico da última turma formada no antigo prédio – Hospital de Crianças Elvira Gomes Nogueira -, sob as vistas do primeiro secretário da Faculdade – Affonso Silviano Brandão.
Em 1965, em infindáveis conversas com ele sobre meus medos e apreensões de ir me especializar nos Estados Unidos, em viagem de avião a hélice, ele me convencia a não desistir, me garantindo o lugar de professor quando voltasse daquela “aventura”. Entre 1967, quando retornei ao Brasil, até sua morte (11/07/1970), convivi com Lucas quase diariamente: conversas na “Sala da Diretoria”, onde entrava sem bater. Este convívio foi marcado por ações institucionais e recreativas:
Dentre as institucionais, a confiança depositada por Lucas em mim para coordenar, ao lado da secretária Marília Gouvêa Viotti, os vestibulares da Faculdade; e a confiança, maior ainda, me nomeando, em 1967, coordenador dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, recebidos da Fundação Arapiara.
Dentre as recreativas, mesmo 40 anos mais jovem que Lucas, nós dois convivíamos como se fôssemos da mesma idade. Era comum, quando terminava meu trabalho em torno de meio dia das segundas, quartas e sextas feiras, no Hospital do IPSEMG, ao lado da Faculdade, passar na sala do Lucas para conversar. Era comum ele dispensar o motorista de seu “Alfa Romeo-JK” e eu o levava em meu Karmann-ghia verde para sua casa, na Rua Rio de Janeiro entre a Avenida Bias Fortes e Avenida Álvares Cabral. E ríamos muito no trajeto: ele, de minhas piadas proctológicas; eu, das piadas ginecológicas dele. E, algumas vezes, ele me convidava para descer e almoçar com ele e Dona Zita. E, algumas vezes, eu aceitava. Sempre me dirigi e me referi ao Lucas como “Lucas”. Nunca o chamei e ninguém jamais me ouviu me referi a ele como “Professor Lucas” ou “Dr. Lucas”. E, se tentasse, soaria falso. Não por desrespeito, mas por carinho, por convívio e … por determinação dele.
Mas, há um outro motivo pelo qual a escolha recaiu em mim: dois grandes amigos meus, o filho do Lucas – Lucas Vianna Machado – e Ieda (esposa dele) – declinaram do convite e me indicaram para esta tarefa! Aceitei, com a condição de eles dois lerem e aprovarem o texto que eu escreveria. E modificassem o que julgassem que deveria. E isto foi feito. E eles acordaram e nada mudaram.
Mas, o que eu escreveria sobre Lucas que ainda não foi escrito? Ao mesmo tempo, como atender o tema proposto – “OS 50 ANOS SEM LUCAS MACHADO NOS 70 ANOS DA FACULDADE”? Pois, para mim e para todos de nossa comunidade, Lucas nunca se ausentou de nossa instituição. Sua foto é vista diariamente e seu nome é pronunciado incessantemente. Então, não seria “50 anos SEM Lucas”, mas “50 anos COM Lucas”! Lucas nasceu no dia 11/11/1901 e faleceu no dia 11/08/1970, antes de completar 70 anos. A Faculdade nasceu no dia 11/11/1950 e comemora 70 anos no dia 11/11/2020. Mas, comemora, também, os 50 anos sem a presença afável e corajosa de seu fundador. Lucas nos deixou quando a Faculdade contava 20 anos de existência (1970) e volta para comemorar os 70 anos de sua criação, 50 anos depois de deixar nossa dimensão. Mas, Lucas nunca nos deixou. As repetidas homenagens de que ele tem sido alvo desde que partiu – da Faculdade, da Feluma, dos alunos, professores e funcionários, da classe médica, das associações médicas, da cidade toda – comprovam isto. E é sobre isto que escreverei: porque as homenagens a Lucas provam que ele nunca nos deixou! Que ele continua entre nós!
05/12/1956: Lucas Machado foi eleito, por unanimidade, paraninfo da primeira turma de formandos da Faculdade.
11/08/1970: a admiração por Lucas foi demonstrada de mil formas, sobressaindo discursos maravilhosos dos líderes de nossas instituições pronunciados logo após seu falecimento e até hoje relembrados em várias publicações: “Lucas Monteiro Machado, o PROFISSIONAL” (Jayme Eiras Furquim Werneck), “Lucas Monteiro Machado, o PROFESSOR” (Affonso Silviano Brandão), “Lucas Monteiro Machado – A OBRA CIENTÍFICA” (Clóvis Salgado), “Lucas
Monteiro Machado – O COLEGA” (João Galizzi), “Lucas Monteiro Machado
– O CIDADÃO” (José Maria Alkimin), “Lucas Monteiro Machado – O DIRIGENTE DE CLASSE” (Francisco José Neves), “Adeus ao Prof. Lucas Monteiro Machado” (Sylvio Miraglia), dentre tantos.
16/11/1970: A Academia Mineira de Medicina colocou Lucas na cabeceira da cadeira de número 03, como patrono, cadeira que teve seu maior amigo – Affonso Silviano Brandão – como primeiro ocupante; e seu filho – Lucas Vianna Machado – como segundo e atual ocupante. Os discursos de posse de ambos são peças literárias e de declaração de amor e admiração.
18/03/1976: as bodas de prata da Faculdade, comemorada no ano seguinte (1976) e encabeçada por Affonso Silviano Brandão, colocaram Lucas na frente e no livro histórico escrito pelo seu maior amigo. Como orador, representando os professores, narrei a vida de Lucas naquela solenidade comemorativa.
12/12/1981: como homenagem a Lucas, o Conselho Deliberativo da mantenedora mudou o
nome da fundação (Fundação Universitária Mineira) para “FUNDAÇÃO
EDUCACIONAL LUCAS MACHADO – FELUMA”, em reconhecimento ao seu fundador.
A cidade que Lucas escolheu para morar, oriundo da histórica e vizinha Sabará, batizou um logradouro com seu nome: “PRAÇA DOUTOR LUCAS MACHADO”.
1986: Os alunos da Faculdade, mesmo nunca terem conhecido Lucas, reconheceram nele o ídolo maior, colocando seu nome em sua representação estudantil:
“DIRETÓRIO ACADÊMICO LUCAS MACHADO – DALM”.
11/11/1999: A Academia Mineira de Medicina, após rigorosa seleção, inseriu Lucas
Machado entre os 20 luminares da medicina mineira, fixando no saguão da
Associação Médica de Minas Gerais um quadro de homenagem com sua foto.
06/11/2000 – Cinquentenário da FCM-MG: a medalha do cinquentenário institucional teve
seu nome: “MEDALHA DO CINQUENTENÁRIO DA FCM-MG LUCAS
MACHADO”, com sua imagem, saída dos pincéis da renomada pintora Nilza Lentz de Carvalho Monteiro, que foi outorgada às comunidades institucional e médica em concorrida solenidade.
06/11/2000 – Cinquentenário da FCM-MG: a vida de Lucas e fotos de sua trajetória ocuparam páginas no livro histórico “FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS: 50 ANOS DE HISTÓRIA”, e em cuja capa sua imagem foi retratada.
06/11/2000 – Cinquentenário da FCM-MG: os familiares de Lucas, ao lado de mais de duas mil pessoas que lotaram o Minascentro, assistiram a entrega de placas com palavras de reconhecimento e homenagem a Lucas Machado, aos seus dois filhos – Lucas e Branca.
11/11/2001: Centenário de Lucas Machado: a medalha “MEDALHA DO CENTENÁRIO
DE LUCAS MACHADO”, com sua imagem, saída dos pincéis da renomada pintora Nilza Lentz de Carvalho Monteiro, foi outorgada às comunidades institucionais e médicas em concorrida solenidade.
11/11/2001: Centenário de Lucas Machado: celebração, por Dom Serafim Fernandes Araújo, de missa de ação de graças a Lucas, na Capela da Santa Casa, em promoção conjunta da Faculdade e do hospital onde Lucas tanto trabalhou, com homilia a cargo do diretor da Faculdade (Prof. Geraldo Magela Gomes da Cruz), do provedor da Santa Casa (Dr. Saulo Levindo Coelho), do representante dos professores da FCM-MG (Prof. Arlindo Polizzi) e dos médicos da Santa Casa de Belo Horizonte (Prof. José de Laurentys Medeiros).
11/11/2001: Centenário de Lucas Machado: instalação do “MONUMENTO DO CENTENÁRIO DE LUCAS MACHADO” defronte à Santa Casa, no exato local onde a Faculdade criada por ele habitou em seus primeiros 14 anos de vida (1950-1964).
11/11/2001: Centenário de Lucas Machado: os familiares de Lucas, ao lado de mais de quinhentas pessoas que lotaram o Auditório Oromar Moreira da AMMG, assistiram a entrega de placas com palavras de reconhecimento ao nosso fundador, aos seus dois filhos – Lucas e Branca.
11/11/2005: A Feluma criou a medalha institucional – “MEDALHA MÉRITO
EDUCACIONAL E SAÚDE LUCAS MACHADO”, com a imagem de Lucas
estampada, destinada à outorga a personalidades de dentro e de fora da mantenedora e mantida, que participaram e contribuíram para seu engrandecimento.
05/12/2006: os primeiros alunos, formados em 1956, voltaram à Faculdade 50 anos depois e afixaram uma placa e entronizaram um busto retratando Lucas, em homenagem ao seu paraninfo.
2018: a Santa Casa, casa em que Lucas Machado trabalhou por quase 50 anos (1924 a
1970) homenageou seu membro ilustre do corpo clínico editando o livro “LUCAS: BOM DE BOLA E BISTURI”, de autoria do Ouvidor institucional e membro da Academia Mineira de Letras – Manoel Hygino dos Santos.
14/05/2019: a Feluma inaugurou o “CENTRO DE MEMÓRIA CIÊNCIAS MÉDICAS”, criando um ambiente dedicado a Lucas Machado, com objetos pessoais seus
doados pela sua família. E estampou um poema de Kipling adaptado por Lucas, por ele declamado na formatura de seu filho –Lucas Vianna Machado – em 1961, dirigindo-se a ele e pedindo que a repassasse aos colegas de formatura em que ele era o paraninfo.
14/05/2019: inaugurando o saguão de entrada do prédio da Faculdade, o presidente da
Feluma – Wagner Eduardo Ferreira – instalou um busto oficial, em bronze, de Lucas, com presença maciça de convidados, dentre eles os familiares de Lucas Machado.
Lucas foi paraninfo da primeira turma de médicos e de técnicos em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (cursos reconhecidos como superiores em 1972) que se formaram enquanto ele estava vivo, sendo raros os anos em que seu nome não figurava como paraninfo, patrono ou homenageado. E até hoje é comum ver sua foto estampada em quadros de formatura da Faculdade.
Para Cora Coralina (“Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”) “o que mata a gente não é a morte; o que mata a gente é o esquecimento”. Como, mesmo 50 anos após sua morte, o nome de “Lucas Monteiro Machado” continua sendo lembrado pela nossa instituição, Lucas continua vivo, pois jamais será esquecido!