JUBILEU DE PRATA – SESSÃO SOLENE
Discurso Presidente Acadêmico Paulo Adelmo Lodi
Discurso proferido na Sessão Solene comemorativa do Jubileu de Prata no dia 22 de novembro de 1995.
A providência divina concedeu-me o privilegio de estar a frete da Academia Mineira de Medicina ao ensejo de seu Jubileu de Prata. Reconduzindo-me à sua presidência, para um segundo mandato. Um profundo sentimento de gratidão, externo, novamente, aos caros confrades, pela eleição e recondução à presidência deste cenáculo. Já dizia, em meados do século XVII, o célebre filosofo francês La Bruyère: “Não há neste mundo coisa mais formosa do que a gratidão”.
O nosso silogeu exibe hoje, notável acervo de conquistas científicas, culturais e históricas, o que engrandece a comemoração do Jubileu de Prata. Aliás, os alquimistas na Idade Média ao procurarem à prata e o ouro, buscavam também, o conhecimento humano. A perenidade e o brilho da prata simbolizavam bem a imortalidade e a alta intelectualidade dos acadêmicos.
A alegria com deste evento, não é completa. Um dos idealizadores deste Sodalício, o nobre Acadêmico Itamar de faria, faleceu, subitamente, há pouco mais de um mês, deixando uma saudade imarcescível em nossos corações. Francisco José Neves e Itamar de Faria, idealistas em 1970, conceberam a fundação desta Academia que, nestes profícuos anos de existência, se transformou no maior repositório de cultura e do pensamento médico mineiro.
Itamar de Faria, meu colega de turma na Faculdade Federal de Medicina, amigo, leal e sincero, sempre disponível para ajudar os companheiros, construiu um largo circulo de amizades desde a adolescência. Na medicina destacou-se como professor de Higiene e Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais, como Presidente do Conselho Científico da AMMG e como especialista em Nutrição, com estágio nos Estados Unidos e no Departamento Nacional de Saúde. Dotado de rica cultura médica, humanística e filosófica, como também sólida formação literária e musical, desfrutava de elevado prestigio no meio médico e na sociedade desta Capital. Na Academia, um baluarte na fase heróica da fundação, foi sempre um sólido esteio até os seus últimos dias; conferencista, sempre presente ás sessões cientificas, culturais, administrativas e solenes, era também um profundo conhecedor da estrutura e da história da Casa de Cícero Ferreira. Devido a sua ampla cultura médica e sólido conhecimento do vernáculo foi eleito Diretor dos Anais da nossa confraria, e, também, revisor no período de 1971 á 1985. Cultor profundo da música erudita integrou como conselheiro várias sociedades que colimavam o seu desenvolvimento e a programação de concertos musicais nesta Capital. Também presidiu, com dedicação, a Orquestra Sinfônica Mineira. Durante alguns anos, como critico de música clássica, publicou vários artigos no jornal “Estado de Minas”. O seu coração estava transbordante de alegria com a celebração do nosso Jubileu de Prata.
A concepção transcendental de Francisco e Itamar mereceu logo o decidido e louvado apoio dos ilustres colegas, também literatos e historiadores, Pedro Salles, Olavo Gabriel Diniz e os saudosos Hilton Rocha, Sylvio Miráglia e Affonso Silviano Brandão, que constituíram assim o núcleo fundador do silogeu médico mineiro. Os colegas acima referidos, em lúcida reflexão, sugeriram que a Primeira Diretoria fosse presidida pelo inesquecível mestre Oswaldo de Mello Campos, notável clínico, aureolado professor de Clinica Médica da Faculdade Federal de Medicina de várias gerações de médicos e cidadão respeitável pela sua energia e dignidade pessoais e probidade profissional.
O nosso respeito e a nossa homenagem aos presidentes que sucederam ao mestre, Antônio Octaviano de Almeida, Francisco Alves dos Reis, José de Laurentys Medeiros e Carlos Alberto de Paula e Salles, os quais em gestões dinâmicas mantiveram em alto nível o conceito do nosso querido sodalício, que tem como patrono o inolvidável Prof. Cícero Ferreira. As homenagens ao nosso insigne patrono devem ser sempre reiteradas. A sensibilidade do seu elevado espírito fê-lo aglutinar, em 1911, um pugilo de homens, 11 médicos e 1 farmacêutico, de grande estofo moral e intelectual para fundar a então Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, onde foi professor de Medicina Legal. Já se destacava como estudante, no dizer de Miguel Couto, seu colega de turma, que propalava o fato que Cícero Ferreira sempre obtinha as primeiras notas. Exerceu com brilho as funções de Diretor de Higiene e de Membro do Conselho Deliberativo de Belo Horizonte. Entre outros cometimentos foi instituidor da Sociedade Literária, depois Biblioteca Municipal, fundador da Santa Casa e idealizador do Hospital do Isolamento, todas as instituições nesta Capital. Cícero Ferreira parecia ter o pensamento do genial médico canadense Osler – “O segredo do sucesso é a constância. Sem constância não há amizade, amor, nem virtude”.
O ano de 1995 foi fértil em atividades cientificas e culturais. Tivemos, igualmente, o lançamento de 2 livros: “A Historia de Peçanha” de autoria do saudoso Acadêmico Titular Ruy Pimenta Filho e “Confusão no Elevador” da lavra do Acadêmico Correspondente Stanley Baptista de Oliveira.
Foi um prazer empossar os Acadêmicos Titulares: Luiz Carlos Viana, Marco Aurélio Baggio, Euler Pace lasmar e Ibrahim Felippe Heneine.
Transcorreu este ano o centenário de nascimento dos Patronos Adauto Botelho, do Rio de Janeiro, de Eurípides Prazeres, de São Lourenço, e de José Mariano Duarte Lanna, de Ponte Nova, de Pedro Pezzuti, de Araxá, e dos Acadêmicos, Oscar Negrão de Lima, da Capital, e de João Ribeiro Villaça, de Juiz de Fora. Nessa cidade foi comemorado o evento, com preito ao ilustre cirurgião, a que comparecemos e discursamos em nome do nosso sodalício.
Os nossos mais sinceros agradecimentos á Associação Médica de Minas Gerais, que nos abriga, e nos presta colaboração administrativa, postal e gráfica, na pessoa do seu ilustre presidente, o grande amigo Dr. Lincoln Freire.
E para rematar, caros amigos – A Academia Mineira de Medicina, na senda dos mais elevados padrões científicos, éticos e culturais, continua, acreditamos, a corresponder aos anseios dos seus fundadores.
Discurso Acadêmico José de Laurentys Medeiros
Discurso proferido na Sessão Solene comemorativa do Jubileu de Prata, em nome dos Laureados no dia 22 de novembro de 1995.
Nossa palavra inicial nesta significativa solenidade que comemora o Jubileu de Prata da Academia Mineira de Medicina será homenagear e relembrar a inesquecível personalidade de um dos idealizadores desta casa. Há 25 anos era inaugurada esta sede, com a abertura do X Congresso da Associação Médica de Minas Gerais, a instalação da Academia Mineira de Medicina, Itamar de Faria presidia o Conselho científico e Francisco José Neves a AMMG. Entre o múltiplo e facetado de realizações, esses colegas imaginaram criar a Academia Mineira de Medicina e o sonho se tornou realidade. Itamar de Faria, neste quarto de século, foi companheiro leal e permanente comentando, sugerindo, participando das discussões e decisões, escolhendo nomes de homenageados e diretores. Sua presença era permanente também nas sessões solenes. Aguardava no saguão a chegada dos convidados, antecedendo a todos, anfitrionando com seu sorriso inconfundível.
Memorizamos, neste instante, sua presença aí na primeira fila, e ao final da sessão, recebendo com o abraço fraterno os participantes, sempre com uma palavra de estímulo e incentivo.
Quis o Criador chamá-lo alguns dias antes desta festa que ele ajudou a elaborar, participando da programação com entusiasmo contagiante. Apesar de ausente sua imagem espiritual será eterna. Quando da constituição do corpo de titulares da academia, os idealizadores não contavam com a idade regimental para ingresso. O presidente, Osvaldo Melo Campos, á semelhança do que ocorrera na Academia Nacional de Medicina para homenagear Carlos Chagas, propôs a criação das cadeiras 101 e 102 que seriam ocupadas por eles e extintas com a morte de seus ocupantes. A diretoria da AMM, sabiamente, decidiu não extingui-las e, sim não mais ocupá-las, em justo pleito de admiração e respeito aos patronos José de Grisólia e Guimarães Rosa, eternizando seus fundadores.
Esta noite, mais do que nós, o homenageado é você, meu caro Itamar, na lembrança e na saudade de seus pares, simbolizadas no dizer de Hilton Rocha: “Não devemos procurar entre os mortos quem realmente vive”.
Agradecer uma homenagem é dever emoldurado pela emoção. Recebe-la em momento tão expressivo da vida de nosso sodalício, é consagrador. Para nós, ter nosso nome entre os ilustres colegas que serão agraciados com a Palma Acadêmica e o Mérito Médico torna a láurea ampliada de forma gigantesca. Ao manifestarmos nossa gratidão em nome dos laureados sejam-nos permitidas breves palavras sobre cada um, pelo muito que merecem.
Carlos Alberto de Paula e Salles, profissional correto, literato, é cidadão impecável. Ao tomar assento nesta Academia marcou o inicio de sua atuação na comissão de grandes eventos e, a seguir, foi brilhante ao presidir a comissão cientifica. Como presidente lastreou sua breve, porém profícua gestão com feitos marcantes e continua presente e atuante.
Hoje sua gratidão á Academia se faz de maneira singular compartilhada com sua Exma. Esposa, Dra. Jurema Rennó Salles, cujas virtudes artísticas serão reafirmadas neste instante.
Solicitamos ao ilustre casal apresentar a esplendida obra em que Dra. Jurema, com sua arte inserem em nossa galeria o retrato do patrono Cícero Ferreira.
Jesus Santos é destes que valem por si. Companheiro sincero, solidário á Academia em todos os momentos, pioneiro da medicina do trabalho em Minas, titular da Academia Brasileira de Medicina do Trabalho e do Instituto Mineiro de Historia da Medicina, é incontestável merecedor da palma acadêmica.
José Carneiro Gondim, emérito tocoginecologista, Professor, defensor incansável da ética, é lidimo representante da tradicional medicina de Juiz de Fora. Literato, possuidor de invejável cultura humanística é acadêmico de proa, sempre que convocado. A Palma Acadêmica testemunha seu valor.
José Noronha Peres, Professor, cientista, pesquisador e formador de escola, escondem, em sua modéstia, brilhante cultura. Colega de agradável convívio e muitos outros méritos os quais lhe asseguram a justiça da láurea.
Olendino Ferreira Prados aliando a competência profissional ao irretocável e permanente zelo pela ética e respeito aos colegas, acrescenta em seu currículo imensos serviços prestados a classe, que o distinguem para receber a Palma Acadêmica.
Em boa hora foi instituída a láurea Mérito Médico traduzindo a lembrança de colegas que não pertencendo a Academia, marcam suas existências pelo exercício correto e dignificante da arte hipocrática.
Com os colegas da Capital temos profundos laços efetivos.
Antonio Avelino Pinheiro, símbolo do exímio cirurgião esbanja jovialidade e cavalheirismo. Com ele compartilhamos emoções profissionais e esportivas.
Fábio Augusto Teixeira sintetiza o obstetra pela sobriedade e técnica. Dedicação e desprendimento são marcas de sua conduta. Reminiscências marcam a lembrança de nosso internato no Hospital São Lucas quando, carinhosamente, era denominado “o chefe”. Osvaldo Gomes Silveira, admirável em múltiplos sentidos é oftalmologista completo, cristão fervoroso e faz de sua profissão verdadeiro sacerdócio. Dele guardamos eterna gratidão, pois, no inicio de nossa carreira, quando o problema de telefones era um tormento, permitiu-nos uma extensão de seu consultório, contribuição fundamental para o desempenho de nossas funções.
Os colegas Délio Borges da Fonseca (Patos de Minas), José Monteiro da Cunha Magalhães (Serro) e José Pereira Rezende (Monte Carmelo) são credores da maior admiração da categoria, pelo exercício da medicina desde os tempos em que os recursos eram limitados. Notabilizaram-se pelo clinico e amor á profissão, personificando figuras impares em suas comunidades.
A homenagem “In Memoriam” traz á tona nomes que envaidecem os médicos do Estado. José Lúcio Pereira ameno e alegre deixou uma lembrança muito feliz do urologista e do Professor que partiu prematuramente.
Manuel Borrotchin cardiologista emérito, Professor, cultor das artes é por nós relembrado com saudade na condição de seu sucessor, como decano da escola do Prof. Caio Benjamin Dias, lugar que lhe pertencia.
Prof. Nelo Rangel revive o tranqüilo mestre hábil no ensino da embriologia, histologia e anatomia patológica.
José Origens Penha (Sul de Minas) Theobaldo Tolendal (Barbacena) e Waldemar Gomes Batista (Sabará) representam quatro pontos do Estado à semelhança de inúmeros médicos de toda Minas Gerais que são permanentemente evocados em nossas cidades.
Sras. e Srs. A constelação de colegas que vivem ou viveram a profissão com brilho invulgar é tão grandiosa que a missão de selecionar os nomes se é fácil pelos méritos, é árdua pelo desejo de a todos, homenagear.
Entretanto, a cada ano, novas expressões que desde já integram nossos corações serão incluídas em nossa galeria.
O nosso agradecimento pessoal é colorido com orgulho e sem falsa modéstia. Expressar em nome dos colegas é um privilégio. Nosso eu se caracteriza pelo ardor as funções para as quais somos convocados. Não ignoramos que os companheiros laureados são dotados de maravilhosa erudição para interpretar o pensamento comum nesta noite. A gentileza de nosso preclaro Presidente Paulo Adelmo Lodi recaiu, certamente, sobre nós pela presença constante que temos tido e pela dedicação á casa de Cícero Ferreira, desde quando ingressamos como titular, em 1973. Temos o Mérito de acompanhá-lo dia a dia da AMM, desde sua fundação. Aqui reencontramos mestres, fizemos novos amigos. Estimulamos o ingresso de acadêmicos valorosos e somos, portanto, testemunha ocular da história.
A gratidão é a memória do coração (Marrieu). Agradecemos à direção da Academia a honra com que fomos distinguidos e aos nossos familiares – Penha, minha mulher, meus filhos, noras e netos pela compreensão e aceitação das horas de convívio que lhe foram roubadas. Á Academia retribuiremos com a continuidade do trabalho. Aos familiares com a herança do cumprimento do dever e de um passado reconhecido por nossos pares.
Não entendemos o médico alheio ás funções associativas e de ensino continuado. Saibam Sras. e Srs. que quando o destino nos chamar á presença do Criador, levaríamos a maior das frustrações, se nos tivéssemos afastado destes princípios e vivido somente em função das retribuições materiais. Simples foram nossas palavras, mas trazem em seu conteúdo o ardor de uma alma plena de reconhecimento àqueles que merecem ou mereceram nossa admiração.
A derradeira palavra de gratidão em nome de todos relembra o magno orador desta casa desde sua fundação até pouco antes de sua morte: Acadêmico Hilton Rocha figura insubstituível em solenidades de grande gala como esta. Disse o excelso mestre. “São os nossos pares que vêm nos dizer que, ao encanecermos, jamais fugimos á linha hipocrática, consolando o espírito, mitigando dores e desfazendo enfermidades”. Eis neste lindo pensamento a expressão mais pura de nosso muito obrigado.
Discurso do Acadêmico Ernesto Lentz de Carvalho Monteiro
Em ocasião do Aniversário da Academia Mineira de Medicina, em 22 de novembro 1995.
Agradeço a honra que me concederam permitindo-me representá-los como orador nesta noite tão especial. Sei que cada um tem a alma cheia de alegria e por certo aqui no meu lugar, saberiam expressá-la de maneira bela e afetiva. Mas os nossos corações estão unidos como em um sincício e Deus presente nos ilumina. Tentaremos fazer com que minhas palavras sejam a de todos nós.
Hoje é festa importante porque é dia de aniversário e aniversário sempre se comemora porque significa etapa vencida e compromisso com o futuro. Quanto mais tempo de vida, mais linda a data. Festejamos o que conseguimos realizar e com entusiasmo partimos para novas conquistas.
A Academia Mineira de Medicina comemora seu JUBILEU DE PRATA.
Estamos todos de parabéns por estes 25 anos!
Parabéns Minas Gerais, nosso amado estado, útero fecundo, berço da liberdade, matriz dos mais expressivos nomes que fizeram à glória nacional.
Parabéns Belo Horizonte, nossa abençoada Capital que nos sedia, graciosa e acolhedora, qual jóia incrustada entre montanhas, atinge seu centenário como a Capital do Século.
Parabéns gloriosa classe médica mineira, atuante, exuberante nas suas realizações, humana e cientifica em suas ações, sacrificada e oprimida, porém orgulhosa e altaneira, cumprindo com vocação e heroísmo sua sagrada missão, neste momento histórico em que saúde e educação lutam para reconquistar a atenção e a prioridade exigidas pelo grande povo brasileiro.
Parabéns nossa vibrante Associação Médica de Minas Gerais, casa dos médicos mineiros, berço do nosso sodalício, que sob a autêntica e determinada direção de seu presidente reeleito Lincoln Marcelo Silveira Freire, entra com força total no ano do seu cinqüentenário, cumprindo sua missão agregadora de médicos, produtora de ciência e de defesa profissional.
Parabéns Academia Mineira de Medicina, casa de Cícero Ferreira, filha única da Associação Médica, completando 25 anos com uma história de glórias marcada pelo sucesso de suas realizações que a consagram definitivamente como IMORTAL.
Um pouco de história
Foi num ano de 1970. Seria um ano comum para os médicos se não estivessem reunidos na diretoria da Associação Médica de Minas Gerais dois idealistas: Francisco José Neves, então presidente e Itamar de Faria seu diretor científico. Chico Neves era um presidente vibrante. Lembro-me quando falava aos novos em sua campanha: “no ano de inauguração da nossa nova sede farei seus salões explodirem com o maior congresso que já se teve notícia”. Foi neste coração aberto que a idéia de Itamar de fundar uma Academia de Medicina encontrou eco. Itamar era um gênio. Sua alma musical vivia em sintonia com seu idealismo, sua garra e sua inteligência. Formaram um grupo de trabalho e após noites de labor intenso redigiram os estatutos provisórios e convidaram os colegas fundadores, culminado com a instalação solene da ACADEMIA MINEIRA DE MEDICINA durante o X Congresso da Associação Médica de Minas Gerais, na noite de 22 de novembro de 1970. Estávamos presentes aquela noite indescritível de sala cheia. Vale a pena nos transportar-mos no tempo por breves momentos e lermos alguns trechos da ata que se lavrara dias antes na sessão de fundação, no dia 16 de novembro, para sentirmos como se concretizou aquela idéia feliz.
“Às 21 horas do dia 16 de novembro de 1970, na sede provisória da Associação Médica de Minas Gerais, à Av. João Pinheiro, 129, nesta capital, reuniram-se os fundadores da academia Mineira de Medicina, em número de 49 cujos nomes constam do livro de presença.
Abrindo a sessão falou o Presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Dr. Francisco Neves, expondo os motivos que levaram a atual diretoria da AMMG a promover a criação da Academia Mineira de Medicina, que visa “acolher em seus quadros os profissionais mais experientes e mais vividos e debater temas científicos e culturais”.
Pedindo a palavra levantou-se o Dr. Jorge Teixeira o qual, tecendo algumas considerações sobre os processos de escolha, propôs que a primeira diretoria ficasse assim constituída:
Presidente: Oswaldo de Mello Campos
Primeiro Vice Presidente: Fernando Megre Velloso
Segundo Vice Presidente: Homero Vianna de Paula
Secretário Geral: Pedro Salles
Primeiro Secretário: Affonso Silviano Brandão
Segundo Secretário: Flávio Neves
Primeiro Tesoureiro: Olavo Gabriel Diniz
Segundo Tesoureiro: Javert de Barros
Bibliotecário: Oromar Moreira
Orador: Hilton Rocha
Diretor Social e de Relações Públicas: Olivar Dias da Silva
A indicação foi aceita por todos, aprovada e aclamada com uma salva de palmas.
Em seguida o Professor Oswaldo de Mello Campos foi conduzido à Presidência que assumiu sob visível emoção.
Ao agradecer sua escolha, explicou que estava até em dificuldade para dirigir-se aos presentes, tão emocionado se encontrava com a surpresa da eleição que ele considerava “honrosa e consagradora”.
Discorreu sobre a nova Instituição, considerando-a útil e merecedora dos esforços de todos, a fim de se tornar em breve uma organização vitoriosa. Acrescentou que não seria plausível que em seus quadros não constassem os nomes de Francisco José Neves e Itamar de Faria, que foram a alma deste movimento pela criação da academia sem, entretanto terem completados 50 anos de idade, condição estatutária para o seu ingresso. A Assembléia aplaudiu, festivamente, passando o número de cadeiras a ser de 102. O fato encontrava antecedentes históricos na Academia Nacional de Medicina, quando o número de vagas foi ampliado para 101, a fim de acolher o nome de Carlos Chagas, então com menos de 50 anos, já consagrado mundialmente por ter descoberto a doença que leva seu nome”.
E assim começou nossa história marcada por idealismos, emoção e sabedoria.
Mello Campos, com vigor invulgar, dirigiu a Academia por sete anos. Sucederam-no os grandes nomes de Antônio Otaviano de Almeida, Francisco Alves dos Reis, José de Laurentys de Medeiros, Carlos Alberto Salles, José de Laurentys novamente e Paulo Adelmo Lodi, recentemente reconduzido para o segundo mandato.
Nestes 25 anos a Academia realizou 288 sessões sendo 148 reuniões científicas e culturais. Participamos dos cinco conclaves nacionais já ocorridos patrocinados pela Federação Brasileira de Academias de Medicina: Fortaleza, Niterói, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Goiânia. Os mais variados temas médicos foram debatidos em mesas redondas, palestras e seminários, sempre reunindo os mais expressivos nomes de cada área. A medicina, entretanto não é apenas ciência. È acima de tudo um relacionamento humano ao qual se acrescenta um conhecimento técnico. O médico-paciente, amparada na livre escolha, é a essência do sucesso da assistência médica, exigindo, portanto que os profissionais completem sua formação técnica empenhando-se na aquisição de cultura humanística, filosófica e também artística. Por tudo isto a Academia também se empenhou nestes segmentos promovendo grandes sessões com filósofos e artistas renomados. O culto a memória dos grandes vultos da medicina mineira e brasileira mereceu especial destaque em emocionantes sessões solenes, o mesmo acontecendo com os nossos grandes estadistas do passado que iniciaram a nossa honrada tradição política.
Citemos como exemplo alguns destes momentos: Aspectos legais e éticos do aborto (João de Freitas); Hospital de apoio em cancerologia (João Resende); Sistema de Saúde no Brasil (Raphael de Paula e Souza); Raiva Humana (Maria Tofani Gontijo); Evolução da História da Medicina (Pedro Salles); Relações dos Cirurgiões com os Anestesistas (Alysson de Abreu); A Medicina e alguns aforismos não hipocráticos (Ismael de Faria); Diagnóstico da Tuberculose (José Feldman); ética médica (Joaquim Affonso Moretzhon); Leucemias (Romeu Ibrahim); Medicina do Trabalho (Jesus dos Santos); Esquitosomosse (Nívia Nohmi); Hipertensão Portal (Wilson Abrantes); Abuso de Drogas (Elias Murah); Aids (Mozart de Castro Neto); Stravinsky (Armando Greco); Teorias e Práticas dos efeitos psicológicos da música (Sérgio Magnani); Pós graduação (mesa redonda); Genoma humano (mesa redonda); Caos e fractais (Antônio Octaviano); População e desenvolvimento (Dario Tavares); Homenagem recente a Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Milton campos e Juscelino Kubsticheck… e muitos outros temas de igual valor. Os anais publicados anualmente registram de maneira rica toda nossa profícua atividade.
Socialmente a Academia também tem se esmerado em suas sessões solenes merecendo destaque as posses de novos membros onde a pompa imprimida às cerimônias demonstra o orgulho e a honra dos recipiendários e suas famílias.
GRANDES VULTOS DO PASSADO
Venerar a memória dos confrades falecidos será sempre, mais que um dever, uma demonstração da nossa gratidão e da nossa saudade. Deveremos sempre relembrar a obra de cada um, o exemplo de homens e de médicos que foram, para que seus sucessores, espelhando-se em suas vidas, possam transmitir às gerações futuras as maravilhosas experiências de cada um. A Academia os homenageia com a MEDALHA DO MÉRITO MÉDICO “IN MEMORIAN” entregues às respectivas famílias. Este ano será lembrado José Lúcio Pereira, Manoel Borrotchin, Nelo Moura Rangel, de Belo Horizonte, e Waldemar Batista de Sabará, José Orígenes Penha, de Cruzília e Teobaldo Tolendal de Barbacena.
Permitam-me ainda senhoras e senhores, relembrar alguns que mais recentemente nos deixaram, para que seus exemplos ainda muito presentes iluminem nossas vidas. Luiz Adelmo Lodi, pai do nosso presidente, modelo de austeridade e competência. Alysson de Abreu, seu discípulo, nosso mestre, disciplina e maestria cirúrgica. Josefino Aleixo e Cid Ferreira Lopes, juntos como sempre estiveram. Dois irmãos, dois colegas de turma e de especialidade. Como era bom vê-los aqui: o Josefino com seu humor fino e o Cid com sua sisudez paternal. Afonso Silviano Brandão, mestre da organização, o grande secretário da primeira diretoria. Maria Tofani Gontijo. Foi de repente que perdemos nossa grande e atuante sanitarista. José Ferola, Orlando Fonseca Lobato e Javert Barros, este último nosso querido paraninfo, heróis da radiologia. Jayme Eiras Furquim Werneck, nosso pai da cancerologia ginecológica. Rui Pimenta Filho, perfeita associação de médico do interior e cientista pertinaz, como professor universitário. Eduardo Levindo Coelho, cirurgião elegante, administrador competente, político hábil, iniciador do ensino médico continuado, com os cursos de reciclagem realizados no IPSEMG. Silvio Miráglia, nosso majestoso confrade com sua eterna jovialidade e a pujança de sua obra literária. Hilton Rocha. Até o senhor professor/ Ele também nos deixou. Ainda reverberam nesta sala as palavras deste deus da luz. Sua oratória mágica escancarou nossas pupilas, fazendo-nos enxergar com a poesia de suas palavras e grandeza de ser acadêmico expressa de maneira tão feliz naquela página maravilhosa que Laurentys em momento inspirado chamou de Hino da Academia.
Itamar de Faria. Tão recente, tão de repente. Ninguém se acostumou. Sempre o primeiro a chegar, parecia estar ali para nos receber com seu sorriso afável. Parece ainda integrar a mesa. Nosso fundador. Insubstituível. Grande homem, grande médico, grande confrade. Grande perda.
Chegou-nos há pouco a notícia do falecimento de Resala Salum, de Uberaba. À sua memória, nossas homenagens.
Mas eles se foram.
A vida é um fenômeno cuja essência escapa à nossa compreensão. Em um momento de dimensões misteriosas CORPO E ALMA se unem. A partir daí nas alegrias e sofrimentos do homem, a alma de enriquece e engrandece, levando para a eternidade a grandiosa produção humana. A saudade sempre existirá traduzida por nossas lágrimas. Mas ao lado delas sempre existirão as flores que juntamente com a certeza da imortalidade serão sempre o nosso consolo.
Sabemos que eles estão bem. Certamente estão no céu, pois desde o catecismo aprendemos que após a morte os bons vão para lá.
RENOVAÇÃO
A Academia, entretanto sempre se renovará, admitindo em suas fileiras novos e legítimos representantes dos nossos ideais, eu honrarão com seu trabalho aqueles que o antecederam. Entre numerosos e brilhantes candidatos, através de judicioso processo regido por normas estatutárias rigorosas que avaliam curriculum e trabalho inédito, elegemos aqueles que apresentam o maior cabedal científico e cultural. E neste ano a Academia se encheu de júbilo, admitindo em suas fileiras cinco novos confrades de inegável valor que vieram acrescentar o seu brilho ao nosso trabalho. São eles:
Luiz Carlos Vianna, ginecologista, com o rico e momentoso trabalho “Medida da Densidade mineral óssea em mulheres na pós menopausa”.
Marco Aurélio Baggio, psiquiatra, analisando com a riqueza de sua mente inquieta os mistérios do nosso comportamento no trabalho “Psquismo Humano”.
Euler Pace Lasmar, nefrologista, traduzindo seu pioneirismo e incansável dedicação aos transplantes renais no requintado trabalho “Indução em doses baixas de OKT3 versus imunossupressão tríplice em transplante renal com doador cadáver”.
Ibrahim Heneine, cientista, trazendo à nossa Academia a obsessão do pesquisador, com o lapidar trabalho “Anatoxinas”.
Alcino Lázaro da Silva, cirurgião, com seu trabalho “Tratamento cirúrgico da hérnia incisional abdominal anterior” trouxe-nos certamente a maior contribuição mundial para a solução do complexo problema das eventrações pós operatórias.
Parabéns aos novos ocupantes e à nossa Academia.