CENTENÁRIO NASCIMENTO DE JOÃO RIBEIRO VILLAÇA
Discurso Acadêmico Paulo Adelmo Lodi
JOÃO VILLAÇA. RICA CULTURA MÉDICA E TOCANTE BENEMERÊNCIA
A evocação da memória do ínclito cidadão, mestre de virtudes cívicas e notável cirurgião João Ribeiro Villaça, ao ensejo do centenário de seu nascimento é importante reminiscência da história da medicina e da cirurgia de Juiz de Fora, de Minas Gerais e do Brasil. A propósito, o grande escritor e poeta alemão Goethe já assinalava no princípio do século XIX – “Não conhece a sua arte, aquele que desconhece a sua história”.
A Academia Mineira de Medicina, que comemora este ano, o seu Jubileu de Prata, associa-se, altamente sensibilizada, ao justo e merecido preito ao seu saudoso acadêmico, confrade da primeira hora, portanto membro titular fundador. O nosso cenáculo foi brindado com as luzes da sua cultura médica, da sua inteligência e do seu agradável convívio, infelizmente por pouco tempo, pois seu falecimento ocorreu 3 anos após a sua fundação. João Ribeiro Villaça foi, no nosso silogeu, o 1° ocupante da cadeira n°-100 que tem como patrono João Nogueira Penido, 2° ocupante Antônio Carlos Pereira e 3° ocupante Amaury Andrade, todos residentes nesta cidade de tão ricas tradições culturais.
Seu pai, Hermenegildo Villaça, insigne médico, pioneiro da cirurgia em Juiz de Fora, também patrono de uma cadeira no sodalício mineiro, que teve como 1° Membro Titular, o hoje Emérito João Resende Alves, e atual ocupante Milton Figueiredo, foi contemporâneo de outros desbravadores, como Borges da Costa e Hugo Werneck, em Belo Horizonte, Andrade Reis em São João Del Rei e Paulo Menicucci em Lavras, que igualmente lançaram as sementes da alta cirurgia em Minas Gerais.
Embora tivesse como fito primordial o aprendizado da Clínica Cirúrgica, Villaça não se descurou da sua formação integral como médico. Assim após a sua graduação, em 1917, pela antiga Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, estagiou nos Serviços de Bacteriologia, Parasitologia e Anatomia Patológica do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.
Depois de tirocínio cirúrgico haurido com o querido e ilustre mestre, seu pai, dirigiu-se nos albores de sua vida profissional, em 1922, para o Velho Mundo, no sentido de aperfeiçoar-se na senda que tinha como alvitre – atualização nos avançados conhecimentos da Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Urologia. Fez cursos nas melhores clínicas de Paris, Berlim, Viena e Praga. Essa sólida formação cirúrgica aliada ao amor ao nosso mister, sublime anseio de bem atender e tratar os doentes, alicerçada em impecável ética profissional, proporcionaram-lhe vasta clientela particular e elevado prestígio que foram fatores dominantes para ser indicado chefe de clínica e diretor da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Espírito arguto e percuciente, e baseado em alentada experiência cirúrgica e profunda cultura médica, publicou mais de 50 trabalhos científicos sobre importantes capítulos da patologia cirúrgica.
Mentalidade elevada e criativa, o seu espírito estava sempre dirigido para os empreendimentos de grande alcance social e educativo. Uma das suas brilhantes iniciativas foi a remodelação da Santa Casa, de modo a transformá-la em um hospital moderno com eficiente assistência aos doentes. Outra empresa de vulto foi a fundação de Faculdade de Medicina de Juiz de Fora, em 1935, que viria funcionar realmente em 1952 sob sua direção, e igualmente, nela exerceu, com brilho, a cátedra de Clínica Cirúrgica. Villaça prestigiou, também a Sociedade de Medicina e Cirurgia local, presidindo-a com abnegação e dinamismo.
Para tão operosa e nobre capacidade de trabalho poderíamos ajustar os versos do brilhante poeta francês Baudelaire:
“Les minutes, mortelle folâtre “Os minutos, folgazão mortal
Sont des gangues São gangas
Qu’il ne faut pas lâcher Que não se podem abandonar
Sans en extraire l’or” Sem delas extrair o ouro”
Essa obra grandiosa e imarcescível foi impregnada de espírito caritativo e de grande modéstia. A despretensão e a simpatia são belos predicados que exornam a personalidade dos indivíduos realmente valorosos. Para tal maneira de ser, amolda-se bem um pensamento do filósofo francês La Bruyére – “A modéstia é para o mérito, o que o sombreado é para a pintura, dá-lhe força e realce”.
Do seu feliz consórcio conjugal do D. Irene de Assis Villaça deixou 6 filhos, Miguel, Maria, Hermenegildo, Henrique, Inácio e Luiz, estes dois últimos médicos com carreira brilhante nesta cidade, e herdeiros das peregrinas virtudes paternas. Paula, filha de Luiz também é médica.
E para rematar, minhas senhoras e meus senhores, a medicina é a mais bela das profissões, Felizes aqueles que, como João Villaça, a praticam com amor à vocação, ideal apostolar, dedicação integral aos seus doentes e fé inquebrantável nos seus sagrados preceitos éticos.
MUITO OBRIGADO