José de Oliveira Ferreira
É o patrono da Cadeira 87.
Nasceu José de Oliveira Ferreira Filho, filho de José de Oliveira Ferreira e de Maria Rosa Soares Inheiro, imigrantes portugueses, no dia 13 de agosto de 1864, em Uberaba, na Província de Goiás, hoje no Estado de Minas Gerais.
Estudou as primeiras letras numa escola onde atualmente funciona o Colégio São Judas Tadeu, em sua cidade natal.
Findo o curso primário, acompanhado de um velho escravo, partiu a cavalo, pernoitando na localidade hoje conhecida como Delta, e dali continuou para Franca, em São Paulo, de onde seguiu de trem até o Rio de Janeiro.
Matriculou-se no Ginásio do Mosteiro São Bento, no Rio de Janeiro, para complementar os estudos e fazer exames preparatórios de acesso à Faculdade.
Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e durante o curso teve febre amarela, da qual escapou milagrosamente.
Formado em medicina, adotou o nome do pai (exceto “Filho”, o último nome), abriu consultório em São Paulo, na capital, adquirindo grande clientela, que lhe permitiu ganhos suficientes, em seis meses, para viajar a Europa e freqüentar Hospitais de Paris, Berlim e Viena, dedicando-se ao aprendizado.
Retornando ao Brasil, fixou residência em Uberaba e ali instalou consultório.
Voltou a Paris por mais duas vezes, prosseguindo seus estudos e atualizando-se. Um dos cursos que freqüentou era ministrado pelo eminente cientista Louis Pasteur, que já estava hemiplégico, o que em nada alterava o brilho das suas aulas.
Dedicou-se também à política, fundando com amigos o Partido Republicano, instalado acintosamente no dia em que o genro de D. Pedro II, o Conde D’eu, inaugura a estação da Estrada de Ferro Mogiana, em 1888.
Na política, nunca se candidatou a cargos, nem os aceitou.
Teve uma intensa vida profissional abrangendo todas as especialidades da época, o que era usual nas cidades interioranas do país.
Envolveu-se com a agropecuária numa ação ampla e de ótimos resultados, tornando-se um dos mais prestigiados importadores de gado indiano para a região do Triângulo Mineiro.
Em 1903, incorporou a empresa de Força e Luza Caldeira, Ferreira e Cia.
No ano seguinte entre grandes festejos, foi inaugurada a distribuição de energia elétrica na cidade, com grande expectativa de progresso para a região.
Viajou em 1911, com a família (nove pessoas) para a Europa, permanecendo lá por quase dois anos, tempo que aproveitou para estudos médicos.
De volta, trouxe equipamentos de Raio X, recomeçando sua atividade cirúrgica, interrompida somente aos 80 anos de idade.
Foi provedor da Santa Casa, onde dava assistência diária no período da manhã. Na parte da tarde atendia em clínica particular.
O hospital da Santa Casa foi destruído por um grande incêndio, mas o Dr. Ferreira, como era conhecido, não desanimou; projetou o novo edifício, arrecadou fundos com outros colegas e, em 1934, inaugurou as novas instalações.
Naqueles tempos o exercício da medicina demandava sacrifícios e abnegação da parte dos profissionais médicos. Os transportes eram precários.
As visitas aos doentes eram feitas a cavalo, sendo necessário às vezes cumprir jornadas de até 30 ou mais léguas (180 km). No exercício da sua profissão percorreu todo o Triângulo Mineiro, conhecendo cidades como Ibiá, Barragem, Estrela do Sul e, no Estado de Goiás, a cidade de Morrinhos.
Os atendimentos diurnos ou noturnos eram o símbolo da abnegação. A epidemia de 1918 de gripe espanhola escancarou as portas das casas dos médicos dessa época, e elas permaneceram abertas, enquanto durou a calamidade, sem ônus para ricos ou pobres.
Homens de grande simplicidade e aspecto austero infundia confiança em seus clientes e respeito maior frente aos circunstantes.
Tímido por natureza, não comparecia a Congressos médicos, não ocupou cargos de destaques nem deixou obras escritas, salvo sua tese de formatura.
Com os íntimos, entretanto, era alegre e cordial, além de agradável no trato.
Recolheu-se ao lar entre os 80 e 87 anos, conservando-se lúcido.
Faleceu em Uberaba no dia 02 de julho de 1951.
Texto: Christobaldo Motta de Almeida