José Carlos Ferreira Pires
É o patrono da Cadeira 34.
Nasceu José Carlos Ferreira Pires em Paracatu, na Província de Minas Gerais, no dia 27 de setembro de 1854, filho de José Ferreira e de Belmira Álvares de Santana.
A família mudou-se para Formiga, também em Minas Gerais, quando o menor tinha quatro anos. Estudou no externato da cidade, mantido pelo Professor Fortunato de Souza Pereira.
Em Ouro Preto, segunda capital de Minas Gerais, prestou seus primeiros exames, parecelados, conseguindo grau máximo nas matérias escolhidas. Fez os estudos de humanidades em Mariana, primeira capital da Província de Minas Gerais.
Aos 18 anos de idade, hospeda-se em sua casa, na cidade de Formiga, o Coronel Teixeira de Magalhães Leite, parente de seus pais, abastado comerciante estabelecido no Rio de Janeiro. Impressionado com os profundos conhecimentos humanísticos do rapaz, e com seu desejo de estudar medicina, propôs levá-lo, e em troca o jovem rapaz daria aula para seus filhos, teria moradia e alimentação na residência do Coronel.
A proposta foi aceita em razão dos seus pais não disporem de meios para sustentá-lo fora da casa paterna.
Ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1873 e diplomou-se no dia 06 de dezembro de 1878 com a tese de doutoramento intitulada: “Doenças do encefálo”.
Durante o curso médico manteve estreitas ligações com Torres Homem, expoente da medicina na época. Consta ter herdado do mestre, em testamento, na condição de aluno mais distinto do curso médico, sua biblioteca.
Em janeiro de 1879 volta para Formiga e instala clínica de alto padrão profissional, surpreendendo a população local.
Morando no interior do Estado, observou que só poderia manter-se atualizado e evoluir nos seus conhecimentos assinando revistas européias ou adquirindo livros francês e alemão. Aprendeu sozinho o alemão, que passou a dominar posteriormente, além de formar magnífica biblioteca.
Adquiriu então aparelhagem de ação terapêutica e de laboratório usados nos grandes centros médicos do país e do exterior com os quais fazia análises clínicas, exames parasitológicos e de microbiologia.
Executava exame anátomo-patológico e necropsias. Fazia biopsias, incrustações, cortes histológicos, exames e diagnósticos.
Tomou conhecimento do invento de Roetgem, em 1895, pelos periódicos que recebia, se interessou por ele, entrou em entendimento com o fabricante e adquiriu um aparelho, montando-o e instalando-o, com base nas explicações, em alemão, do folheto que acompanhava o equipamento.
É surpreendente a intrepidez do médico. Para um gênio, entretanto, não há obstáculos insuperáveis.
Formiga, pequena cidade do centro-oeste, distava 30 km do ponto final da estrada de ferro em Itapecerica, de onde as mercadorias prosseguiriam, forçosamente em lombos de burro ou lentos carros de bois, até seu destino.
Com a colaboração de um amigo de nome de Euzébio Lima e o auxílio dos filhos, conseguiu colocar em funcionamento o aparelho de Raio-X e realizou radiografias impressas em placas de vidro fotográfico. Tornou-se assim um dos pioneiros da radiografia no Brasil.
Causou perplexidade, também, um médico do interior preparar-se sozinho, para concorrer em 1899, a Lente substituta da Cadeira de Fisiologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. E o fez com a tese: “da patogenia de diabetes segundo a experimentação e observação clínica”.
Merecem menção alguns dos seus trabalhos publicados antes de 1911:
1) ”Do envenenamento pelo ácido Prússico”.
2) “Hematocele”.
3) “Diagnóstico e tratamento da sífilis visceral”.
4) “Etiopatogenia da framboesa tropical”.
5) “Localização de corpos estranhos pelo Raio X”.
9) “As radiodermites”.
10) “Radioterapia do Linfoedema”.
11) “Técnica radiológica do tubo gastrointestinal com emprego de radiopacos”.
Participou do 3º Congresso Latino-Americano em agosto de 1905 com a memória “Imunidade e Imunização” e do 7 Congresso Brasileiro em 1912, com o trabalho “Estudo clínico-experimental sobre o tratamento do reumatismo articular agudo pela ionização salicílica”.
Publicou uma série de “Palestras de botica” assinada com o pseudônimo de Dr.Bergeret, de 1902 a 1908.
Fundou a Santa Casa de Misericórdia de Formiga.
Criou em 1883 o Clube Republicano em um anexo onde funcionava a Sociedade Literária. Fundou em Formiga, o primeiro jornal do partido republicano, intitulado “O Democrata”.
Foi Deputado a Constituinte da República e eleito para Assembléia Legislativa do Império, não tomando posse, devido à Proclamação da República. Voltou à Câmara dos Deputados por duas legislaturas.
Foi um dos gênios interioranos da medicina brasileira.
Faleceu em 29 de maio de 1912.
Texto: Christobaldo Motta de Almeida