Henrique Marques Lisboa
É o patrono da Cadeira 5.
Em Barbacena, na Província de Minas Gerais, nasceu Henrique Marques Lisboa no dia 17 de fevereiro de 1876, filho de Borja Marques Lisboa e Henriqueta Coelho.
Perdeu os pais na infância, sendo criado no Rio de Janeiro pelo seu avô, um Almirante que se tornaria patrono da Marinha de Guerra do Brasil, com o título de Marquês de Tamandaré.
Estudou no Seminário Menor de São José, naquela cidade, onde cursou também ginásio. Desde cedo, começou a dar aulas de aritmética, álgebra e geometria, para se sustentar e, mais tarde, trabalhou em um Cartório, quando cursava o 5º ano médico na Faculdade de Medicina e Farmácia do Rio de Janeiro.
Nesta, vinha observador por Oswaldo Cruz, que o convida e a Cardoso Fontes, e a Ezequiel Dias, para integrar a primeira equipe de pesquisadores do Instituto de Manguinhos, onde passou a trabalhar.
Em seguida, foi designado interno do Hospital de Isolamento de Pestosos em Jurujuba com incumbência de demonstrar o valor terapêutico do soro antipestoso, fabricado no Instituto.
Formou-se em 1902, defendendo uma tese com o título “Hematologia”, e é nomeado Auxiliar do Laboratório Federal de Bacteriologia.
Oswaldo Cruz dá-lhe a missão de ir a São Luiz, no Maranhão, com a finalidade de combater a epidemia de peste bubônica que assolava a região. Levando uma importante carga de soro fabricado em Manguinhos, conseguiu debelar a doença; adquiriu-a, entretanto. Curado, volta ao Rio de Janeiro.
Em 1905, é nomeado Delegado de Saúde do 3º Distrito, no Rio, cargo que exerceu por cinco anos, sendo removido para o 1º Distrito, como prêmio.
Ao contrair tuberculose, em 1911, transfere-se para Belo Horizonte, cidade que, por suas condições climáticas, era a mais indicada para o tratamento. Nesta, é nomeado Diretor do Posto Experimental de Veterinária, órgão Federal no Estado, onde primeiro enfrenta a peste dos porcos, aplicando o soro. Por processo original preparou outro soro contra a febre aftosa, com êxito de 80% de imunidade nos animais inoculados.
Dedicou-se à pesquisa da pneumoenterite bovina, a qual provou tratar-se de moléstia virótica, e obteve soro ativo contra o epitelioma contagioso das aves. Imunizou, contra piroplasmose e anaplasmose, o gado vacum, importado para seleção de rebanhos. Fez pesquisas sobre diversas epizooticas dos rebanhos mineiros. Nas viagens de visitas às fazendas, atendia aos doentes, dando-lhes medicamentos que levava consigo.
Chegou a Belo Horizonte no momento certo, quando, fundada a Faculdade de Medicina, encontrava-se vaga a Cadeira de História Natural de Medicina, que ele, então, aceitou prover.
Em 1926, publica “Apontamentos de Patologia Geral” e, em 1927, faz parte do Corpo Docente da Faculdade de Medicina como Professor Catedrático de Biologia e Parasitologia e de outra Cadeira de Patologia Geral.
Entre inúmeras realizações, fundou o primeiro clube sócio-esportivo da capital, próximo à Avenida Mantiqueira, hoje Alfredo Balena, em frente à Faculdade de Medicina, onde descobriu uma nascente que canalizou para um enorme tanque, o que se tornou a primeira piscina de Belo Horizonte.
A “Sociedade de Rádio Difusão”, primeira emissora da capital, fundada por ele, funcionava nos porões da sua casa. Da mesma forma, criou o primeiro núcleo de escotismo, que funcionava nos referidos porões.
Em Lagoa Santa, fez o primeiro Clube de Regatas de Minas Gerais, para onde ia aos domingos e nos feriados.
Fundou com colegas e amigos o “Rotary Club” setor de Minas Gerais, do qual foi presidente. Criou também o Jóquei Club na Capital.
Planejou a “Vila dos Convalescentes”, para abrigar tuberculosos, oriundos do interior, em tratamento. Edificou galpões, onde instalou enfermarias, ambulatórios, aparelho de RX e sala de cirurgia, sendo dado ao conjunto o nome de Sanatório Morro das Pedras. Esta foi à semente da grande obra conhecida como Sanatório Marques Lisboa, onde ocorreu a primeira experiência de Laborterapia no Brasil, com as oficinas do Tuberculoso Pobre.
Colaborou com Dona Helena Antipoff na Fazenda do Rosário dando aulas e inovando, sendo o precursor da Escola Ativa e também o pioneiro da medicina experimental no Estado.
Não fazia experiências para que o aluno assistisse a elas, mas os obrigava a fazer experimentos para comprovar se a teoria pregada era verdadeira. Dizia: “Na vida, aconselho-os, somente aceitem aquilo que a mente analisou, metabolisou e sedimentou”.
Exerceu a presidência da Associação Médica de Minas Gerais e foi o responsável pela aquisição de sua sede, na Av. João Pinheiro, além de ter sido o avalista de algumas de suas promissórias.
Foi agraciado pelo Governo da República, em 1858, com a Ordem Nacional do Mérito.
Recebeu inúmeras condecorações e homenagens que convalidam ou atestam o seu passado.
Aconselhava: “Tenha perfeito domínio de si. Coragem. É preciso coragem para dizer aquilo que ainda não foi dito. Exponha sua teoria, a razão dela, suas conclusões. Se ao final baterem-lhe uma palmas, derem-lhe uma pancadinhas nas costas e disserem ‘muito bem’, rasgue seu trabalho e jogue-o fora. Não valeu de nada – Caso, entretanto, criticarem-no, contra-argumentarem com veemência ou quiçá até mesmo com violência, anime-se, pois seu trabalho tem valor”.
Aposentado, em 1952 dava aulas de biologia gratuitamente aos vestibulandos, entre os quais me incluo, na Associação Cristã de Moços, na rua Paraíba.
Foi um dos maiores exemplos de vida médica ativa, criativa, produtiva e construtiva do século XX, em Minas Gerais.
Deixou saudades em 04 de março de 1967.